Teve uma vida longa e
plena. Nasceu em berço de ouro em plena avenida de Liberdade em Lisboa. Agruras
da vida atiram-no a ele, mãe e irmãos para uma aldeia beirã sem água canalizada nem luz.
Tinha ele quinze anos e estudava no liceu Camões. Filho mais velho de seis irmãos transformou-se no homem
da casa. Bom conversador e um grande contador de histórias, sempre falou desses tempos vividos nas serranias da Freita, com um
grande sentido de humor. As nossas memórias, as dos filhos e também as dos
netos, estão repletas das suas narrativas desses tempos duros, vividos por ele, mas
sempre com a tónica na boa disposição.
Foi o seu otimismo que o
fez rumar a Angola, agora casado e com uma criança de meia dúzia de meses. A
viagem demorou treze dias! Ele por lá ficou vinte e cinco anos.Como sempre, angariou o respeito e consideração de todos os que com ele lidavam e construiu uma vida. O vinte e cinco de abril interrompeu esta rotina feliz e tranquila.Sucedeu-se um período de muitas angústias e aflições. Como ele gostava de dizer, começou outra vez pelo garfo e pela colher. Nunca perdeu o aprumo, a honestidade, o cavalheirismo. Talvez por isto tenha reconstituído a vida com relativa facilidade. O tempo passou até sexta-feira passada.
Agora é a lembrança dele que nos apazigua a tristeza. Sei que o meu pai é mais do que uma suave recordação. Ele é acima de tudo um exemplo para todos, especialmente para os netos que estão agora a começar a construir as suas vidas num período com alguma similitude ao da juventude do seu avô.