quarta-feira, 15 de maio de 2013

Azulejos com motivos vegetalistas. Braga

Mais uma fachada, desta vez em Braga, no atual Largo de Santiago, local antigo, que  na época era designado por rua de São Tiago  e que aparece já referenciado no manuscrito de 1750,  " Mapa das ruas de Braga", da autoria do padre Ricardo da Rocha. A título  de curiosidade diga-se que este mapa surge da incumbência, por parte do Cónego Francisco Pacheco Pereira, Provisor do Arcebispado, com o objetivo de localizar e identificar as casas foreiras ao cabido, numa tentativa de inverter a grave crise económica e financeira que se vivia  e que, segundo alguns, terá sido resultante de uma negligente administração dos bens, por parte do cabido da Sé de Braga.

Claro, que a casa que mostro hoje é bem mais recente, talvez do primeiro quartel do século XX e está revestida com uns azulejos, bonitos, muito bonitos, diferentes do comum, mas que curiosamente, vistos ao longe, não criam impacto visual. É daqueles edifícios que, seguramente, não será muito fotografado por turistas.
O certo é que ainda ao longe, achei-lhes qualquer coisa de diferente e resolvi atravessar o largo para os ver mais de perto. Para minha grande surpresa encantei-me com eles :) Esta sucessão de arcos, folhagem,  linhas curvas e a sua policromia dão-lhe um ar muito gracioso e diferente.Há qualquer coisa neste padrão vegetalista que me remete para os desenhos dos tecidos indianos. A pintura irregular e aguada, do cor de rosa dos arcos podem ser indicadores de uma produção ainda  pouco industrializada. Mas, sobre estas  questões técnicas não me pronuncio.
Em baixo, um pormenor do aro que envolve as portas. Descobri há pouco tempo  quão harmónicos são estes acabamentos dos azulejos com as guias de granito.

Pormenor da faixa que remata todo o  trabalho de revestimento

11 comentários:

  1. Braga é uma cidade na qual passei (infelizmente) muito pouco tempo, mas que foi suficiente para ficar embevecido com sua riqueza e beleza. É talvez, das poucas cidades portuguesas que já conheci, que tem os imóveis mais parecidos com os do Rio de Janeiro do século XIX e início do XX.
    Concordo com você em achar que este imóvel, e azulejos, sejam já do século XX, pois eles (azulejos) são sem dúvida alguma art nouveau.
    Foram mesmo um belo padrão, mas por ser tão intricado e complexo, não é à toa que de longe sua beleza se perde, fica parecendo mais uma textura do que uma padronagem.
    Bela postagem, pela qual lhe agradeço, pois gostei de conhecer este pedacinho tão particular de Braga.
    b'jinhos!
    Fábio

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    1. Caro Fábio
      Quando voltar a Portugal diga-me, que terei muito prazer em mostrar-lhe Braga, que sem dúvida, ainda consegue manter alguns recantos interessantes, embora, como moradora cá, lamente os muitos atentados urbanísticos que têm sido cometidos. Felizmente essa tendência tem-se vindo a esbater.
      Quanto aos azulejos deste edifício, o Fábio identificou muito bem aquilo a que eu, amadoristicamente chamei de falta de impacto visual:) Pois é exatamente como diz. Este padrão, ao longe, parece uma textura. A grande área revestida, não deixa sobressair a beleza dos pormenores.
      Não tem nada que agradecer, pois é um gosto muito grande poder partilhar consigo estes “achados”.Aliás eu é que tenho que agradecer toda a informação que disponibiliza ns seus blogs
      Beijinhos




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  2. Olá Maria Paula,
    Os azulejos são lindos, mesmo cada um deles individualmente embora formem padrão, e o friso também muito mimoso. Nunca tinha visto iguais e com essas linhas curvas e entrelaçadas muito ao gosto Arte Nova são certamente centenários.
    Sempre gostei muito da conjugação de rosa e verde, acho-a muito primaveril, por isso trouxe aqui estes azulejos na altura certa :)
    Beijos

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    1. Olá Maria Andrade
      Também eu nunca tinha visto azulejos iguais a estes, daí, achar-lhes qualquer coisa de diferente quando os vi ao longe. Ainda bem que resolvi aproximar-me :)
      O criador deste padrão foi muito feliz na sua conceção. Continuo no entanto a achar, que ao longe e revestindo uma área tão grande, perdem muito do seu real encanto e beleza. Os arcos cor-de-rosa dão-lhe uma graciosidade muito grande.
      Beijos

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  3. De longe é uma mancha, que, estranhamente, ganha com a aproximação.
    É como algumas pessoas que, de longe, nos parecem desinteressantes e, por consequência, acabamos por nem nos aproximar, no entanto, quando acontece termos a oportunidade de privar e vê-las de próximo, aprendendo a conhecê-las, revelam-se seres fantásticos, que sabem utilizar a cabeça para mais coisas que fazer crescer cabelo (a minha nem para isso serve ... lol).
    E é notável o cuidado que existia na colocação destes azulejos, onde havia as cercaduras, colocadas de forma estratégica à volta dos vãos (no caso da fachada que apresenta, este pormenor foi descurado), chegando mesmo a cortar os azulejos em pequenas porções para aperfeiçoar o desenho de curvaturas e ângulos retos.
    Eu, que habito numa zona da cidade em que uma quantidade significativa das fachadas (a maioria do século XIX) são revestidas a azulejo, fico sempre de boca aberta ao ver o vituosismo na colocação deste material.
    E o desenho destes que apresenta é-me desconhecido, mas muito bonito quando visto de próximo.
    Por regra, a maioria dos azulejos novecentistas ganham com a distância, pois vistos em particular não têm qualquer interesse (seria incapaz de adquirir qualquer destes azulejos, individualmente, como faço com os congéneres dos séculos XVII ou XVIII), no entanto, pelo desenho precioso que apresentam, estes, das fotografias, ganham com a aproximação, onde a sua riqueza cromática se mostra.
    Uma boa semana
    Manel

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    1. :)Rio-me do seu primeiro entre parêntese :)
      Na continuação da sua ideia sobre o mudarmos de opinião, quando conhecemos mais de perto alguém, que numa primeira impressão não achamos interessante, conto-lhe, que há muitos anos conheci uma colega, cuja primeira impressão que tive dela foi a de que era muito feia. Mesmo muito feia. O tempo foi passando ( não foi preciso muito) e comecei a achar que tinha uns olhos lindos. Depois, verifiquei que era uma pessoa muito correta, com um trato afável e por aí adiante. Resumindo comecei a achá-la bonita:) trabalhamos juntas uns anos, e perguntei-me muitas vezes, como foi possível tê-la achado feia! :) Nunca mais me esqueci desta história!! Com estes azulejos foi algo assim. Não fosse ainda início da manhã e eu não teria tido pachorra para atravessar o largo e perderia assim, a oportunidade de descobrir estes azulejos tão bonitos quando vistos de perto. Concordo com o Fábio quando ele diz que estes azulejos vistos ao longe parecem mais uma textura do que um padrão. Foi essa sensação de estranheza que tive quando os olhei ainda do outro lado da rua.
      Um abraço

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  4. Maria Paula
    ´
    A produção azulejar portuguesa é realmente muito rica e variada. Os séculos XIX e XX parecem então estar realmente mal estudados. Tal como os outros comentadores deste blog, também nunca tinha visto este padrão. Terá sido de uma fábrica do Norte ou de Aveiro? Quem saberá??

    Acho muito interessante este trabalho de ir fotografando os azulejos bracarenses e de outras terras do Norte.

    Bjos

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    1. Caro Luís
      Será muito difícil apurar a origem destes azulejos, precisamente pelo inusitado do seu padrão. Há tempos, descobri um catálogo sobre os azulejos Arte Nova em Portugal onde se faz referência às diferentes caraterísticas deste tipo de azulejos, conforme as regiões de produção, mas não consegui encaixar estes, em nenhuma delas.

      O nosso amigo Fábio é o grande responsável por esta nova maneira de eu olhar os azulejos:) Até aqui via-os como meros pormenores arqutetónicos,que davam fotogafias bonitinhas, agora olho-os com um interesse mais vasto.
      Beijos

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  5. Saudades de vir aqui Paula!!!

    Azulejos fantásticos, mereciam um prédio mais bonitinho!
    Beijinhos

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  6. Obrigada Flávio:)
    Também gosto muito destes azulejos. São um bocadinho diferente do habitual. Fico contente com o seu regresso.
    Bjs

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