Com frequência encontramos em Portugal, bancos de jardim e de
parques públicos ou privados forrados a azulejos dos mais variados tipos e
épocas. É o que acontece na Quinta da Fata, que fiquei a conhecer em setembro
último, aquando de uma caminhada pela região demarcada do Dão, mais
propriamente em Nelas. Foi nesta quinta de frondosos jardins e um vinhedo a
perder de vista que fizemos a primeira pausa do dia, momento que eu aproveitei
para explorar por minha conta, o espaço exterior da casa.
Atraíram a minha atenção os vários bancos forrados a azulejos,
tendo eu ficado com a impressão, que terão pertencido inicialmente a antigos
espaços da casa e reutilizados posteriormente na decoração destes bancos. Em
relação a este primeiro, o meu “feeling” encontrou algum fundamento num artigo
que li, onde o autor chama a atenção para a importância da manutenção in situ do património azulejar e muito
particularmente, destes azulejos de figura avulsa, muito utilizados,
segundo o mesmo autor, na decoração de jardins.
Pelo encanto que encontro na ingenuidade de cada um destes
azulejos, este post focará apenas este banco, pois, as fotografias a mostrar, já
ultrapassam o número que eu considero ideal para manter o interesse dos
visitantes e o equilíbrio estético do post, Os outros ficarão para uma próxima
oportunidade.
Estes azulejos, os da Quinta da Fata, sem serem dos primórdios dos “azulejos de figura avulsa” em Portugal, parecem-me bastante antigos, quer pelos motivos decorativos, quer pelo tipo de pintura que apresentam.
Alguns estudiosos referem a policromia, a decoração dos cantos em “estrelinhas”
e o uso da flor e do barco na decoração, como sendo caraterísticas da produção
lisboeta dos meados do século XVII. Não estou de forma alguma atentar atribuir
uma idade a estes azulejos, até porque, tenho dúvidas quanto ao que pretendem
representar os motivos ornamentais destes cantos.
Serão “flor-de-lis”? Ou serão flores de quatro pétalas também
designadas por “aranhiços” e que por simplificação do traço deram origem às já
referidas estrelinhas?
Talvez por deformação profissional, estes motivos que por vezes
remetem o nosso imaginário para um mundo de fantasia infantil exercem
sobre mim um certo fascínio. Tanto o elefante que se vê na fotografia de
cima, com corpo de porco e a tromba pintada lateralmente às duas presas, como o
saltitante cavalinho são exemplos bem significativos do cunho ingénuo
destes trabalhos.
Guardei propositadamente estas duas fotografias para o fim, pois, os motivos destes azulejos em tudo me fizeram lembrar os casarios com as suas esvoaçantes bandeiras de "toque" oriental no alto dos campanários, tão utilizados na decoração de pratos, travessas e terrinas e que têm sido alvo de vários posts em blogs amigos e que poderão destronar a hipótese da origem lisboeta destes azulejos.
Cara Maria Paula
ResponderEliminarOs azulejos são muito bonitos e ingénuos. Parecem uma coisa feita nos finais do XIX ou na primeira metade do XX, ao gosto do século XVIII. No entanto, são muito bem executados e ficam e quem os fez procurou que os azulejos apresentassem um ar artesanal. Sem querer parecer professoral, arriscaria dizer que foram obra da Fábrica de Fábrica Sant'Anna ou Viúva Lamego.
Bjos
Luís
Também me inclino para os finais do século XIX como a possível data de fabrico destes azulejos.Quanto à sua origem, nada digo, mas a hipótese que coloca da Fábrica da Viúva Lamego, talvez não seja de descartar.Depois de ler o seu comentário fui espreitar o catálogo on-line da VL e há semelhanças consideráveis na decoração dos cantos, embora os do catálogo tenham um ar já muito industrial.
ResponderEliminarBjs
O comentário de cima obviamente é a resposta ao Luís :)
ResponderEliminarSão um encanto, estes azulejos. Tal como vós, inclino-me para finais do XIX, inícios do XX. Quanto à fábrica, aí já não tenho qualquer palpite, pois, apesar de conhecer algum azulejo fabricado pela Viúva Lamego, não é suficiente para me habilitar a esta sugestão. Mas o Luís tem mais "olho" do que eu para estas questões e o que ele afirma sai quase sempre certo.
ResponderEliminarO conjunto ficou muito bonito e ainda bem que a Maria Paula os fotografou e no-los trouxe.
Doutra forma lá ficariam e eu não saberia da sua existência.
Ando também a pensar (mais por insistência do Luís) em fazer um painel destes para o espaço da parede que está por cima duma das enormes chaminés alentejanas que tenho. O conjunto ficará muito bonito estou certo, mas falta-me a cercadura correta! Ainda ando a ver se a consigo adquirir por um preço módico, pois os azulejos de figura avulsa já os tenho.
Uma boa semana
Manel
EliminarSendo grande o espaço da tal parede da chaminé,acho que ficará a "matar" um painel de azulejos de figura avulsa, pois quanto a mim, estes azulejos requerem espaço, para se poderem repetir livremente, de forma mais ou menos aleatória; E, quanto à insistência do Luís, faz muito bem em não lhe resistir :) Ele tem um extremo bom gosto e nesta questão dos azulejos supera-se, pois alia-lhe conhecimentos e uma grande sensibilidade, do que, pelo que tenho visto, resultam sempre espaços magníficos.Sei que não é preciso, mas, devo-lhe dizer, que torno extensível a si estas qualidades que reconheço no Luís.Daí, ter a certeza de que será mais um espaço da sua casa de fazer tirar o fôlego:);a propósito, não me canso de olhar para fotografia da sua cozinha! (roubei a foto ao Luís :)
Espero que encontre uma cercadura que lhe agrade, e que nos mostre mais esta obra quando a tiver concluído.
Um abraço para si e obrigada pela sua presença. Fiquei satisfeita por também se ter encantado com estes azulejos.
Obrigado pelas suas amáveis palavras Maria Paula.
ResponderEliminarEfetivamente a cozinha tem levado muito trabalho, e ainda vai a meio, pois está prevista a instalação de muitos mais azulejos (é necessário ter muiiiita paciência) e a construção de um mezzanino (o pé direito da cozinha é superior a 4 metros) onde conto revestir uma parede inteira com estantes para livros, pois, neste momento, estão por toda a casa e outra parte ainda encaixotada.
E as paredes ainda estão muito vazias ... lol (estou em exagero puro, claro, pois já se encontram sobrelotadas de pratos, travessas, registos, oratório, gravuras, desenhos e telas.
Uma parafernália.
Mas encanta-me saber que gosta dela, pois isso significa que valeu a pena todo o esforço que, até agora, desenvolvemos, o Luís e eu, pois ele tem sido uma ajuda inestimável neste trabalho que vou desenvolvendo.
Quanto à sugestão do Luís, de colocar azulejos no pano superior da chaminé, creio ser interessante, pois foi algo que vimos aplicado no próprio Museu Municipal de Estremoz, e o efeito é muito apelativo.
Mais uma vez, obrigado pelas suas palavras e peço desculpa por todo este arrazoado que nada tem a ver com o tema do seu post
Manel
É merecida cada palavra.
ResponderEliminarEssa ideia do mezzanino é muito interessante e uma boa maneira de, simultaneamente tornar um espaço mais aconchegado e criar outro, que, a exemplo do que vou conhecendo ficará certamente um primor. Aliás, conforme já tenho dito, gosto muito de todos os espaços e peças da sua casa que nos tem mostrado. Perfeita! :) Fala das suas paredes sobrelotadas, mas para sobrelotarmos paredes, com o charme que as suas apresentam, é necessário uma grande dose de sensibilidade e bom gosto. Não basta pôr... :) Um abraço e uma boa semana
Os azulejos portugueses são considerados patrimônio aqui no Brasil. São encontrados em prédios públicos antigos, conventos e casas de gente abastada.
ResponderEliminarAmei essa sua postagem. Esses azulejos são lindos!
Anabela, concordo com você, só tenho a ressaltar que infelizmente nem todos pensam assim, pois boa parte dos imóveis com azulejos antigos está mal conservada. E uma segunda observação: muito do que se diz ser "azulejo português" é na verdade holandês ou francês. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, há raros casos de fachadas com azulejo português; predomina o azulejo holandês, e em segundo lugar francês.
Eliminarabraços!
Olá Anabela
EliminarBem vinda! Apesar de não conhecer o Brasil, sei que há aí um imenso património nesta área, embora, como diz o Fábio, nem todos sejam de origem portuguesa.No campo da azulejaria, Portugal é um museu em campo aberto.Encontram-se de Norte a Sul, das mais diferentes épocas e técnicas de produção. Estes, por exemplo, foram fotografados na região centro.
Vou-lhe deixar o link do Museu Nacional do Azulejo que considero muito útil.
Um abraço
http://mnazulejo.imc-ip.pt/pt-PT/ExposAct/ExpoPerm/ContentDetail.aspx?id=885
Olá Fábio
ResponderEliminarMuito prazer em vê-lo por cá :)e como sempre com observações pertinentes.Desconhecia a predominância dos azulejos holandeses e franceses aí no Rio.
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Não sei se é aselhice minha, ou problema do pc pois não consegui responder à Anabela na
janela própria para as respostas :) e agora tenho que lhe responder fazendo um comentário lol!!Mas o importante é que nos entendamos:)
Um abraço
Obrigada pelo seu comentário no meu blogue Maria Paula!
ResponderEliminarNão conhecia ainda o seu mas tem tudo a ver com o universo de preciosidades patrimoniais que me fascinam; desde as fainças de família até aos azulejos que adornam as fachadas dos nossos edíficios ...
Vou concerteza voltar :)
Muito bem vinda Koklikô :)
EliminarTenho espiado o seu blog e sim, temos, muitas afinidades. Adorei Os seus últimos posts,onde nos mostra as suas relíquias.
Volte sempre.
Olá Maria Paula!
ResponderEliminarEstes cantos são simplificações de um dos cantos mais característicos dos azulejos de figura avulsa holandeses, chamado de "cabeça de touro". Só que nesta simplificação se perdeu tantos elementos, que não vemos sequer os chifres do touro, que no canto holandês são muito proeminentes.
Muito engraçado voltar a esta postagem tantos anos depois, e perceber algo que antes eu não tinha condições de fazê-lo por falta de conhecimento.
abraços!
É verdade caro Fábio. Os anos passam e não nos apercebemos do conhecimento que vamos acumulando.Desconhecia por completo o que estava na origem destes cantos que por aqui são designados por "flor-de-lis", "flor de quatro pétalas" ou "aranhiços".é interessante verificar até aonde nos leva o processo de simplificação das formas, seja ele motivado intencionalmente ou não.
ResponderEliminarUm abraço. Fiquei satisfeita de "revê-lo" por estes lados!
É verdade Maria Paula
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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