quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Louça utilitária com restauro



Tenho um gosto especial por estes objetos utilitários recuperados de forma a serem devolvidos à sua função inicial. Creio que tudo começou com a compra deste jarro e à subsequente pesquisa que levei a cabo, com o intuito de recolher informação sobre a sua marca.Acabei por  ser conduzida à descoberta do blog Past imperfect - The art of inventive repair que nos mostra uma fabulosa coleção de objetos recuperados com diferentes materiais que passam pela prata, madeira e até cabedal.
Pair of early blown glass wine goblets, c.1790 (Past imperfect)
À exceção do restauro com "gatos", não é muito frequente no nosso mercado de velharias encontrar objetos recuperados com outras técnicas que não a acima referida, mas eu tenho tido a sorte de encontrar alguns e é com muito gosto que hoje os mostro. 



Os dois bules, da Vista Alegre e a caneca de Sacavém são da primeira metade do século XX .A chávena é de origem holandesa, motivo Pompeia e tem carimbo usado entre 1851 e 1880.


Nunca me tinha deparado com uma situação destas em que a falta da tampa, peça essencial num bule, não foi motivo suficientemente forte para o pôr de lado.Esta tampa substituta, toda trabalhada em metal, revela um trabalho cuidadoso e integra-se harmoniosamente em toda a estética da peça. Igualmente equilibrado ficou o segundo bule, depois da aplicação da pega e aro estriado, num liga metálica que me parece estanho. 


A robusta caneca de Sacavém ficou igualmente equilibrada e funcional com aros a servir de contrafortes e pega num metal que se deixou oxidar pelo tempo. É fácil imaginá-la a ser agarrada por mãos rudes numa qualquer taberna portuguesa e, quem sabe, a ser bebida por mais do que um cliente em simultâneo. Bem, isto é pura divagação, pois aqui pelo Minho o vinho era  bebido em malgas ou tigelas, hábito que ainda se vai mantendo em certos locais mais rústicos.


O restauro da chávena é mais complexo e delicado. Finos arames uniram de novo a pega ao corpo da chávena. Pela parte de dentro pode-se ver que foram utilizadas duas técnicas diferentes. 


A parte  superior foi agrafada e lá está o nosso conhecido "gato" enquanto que na parte inferior apenas aparece o arame, convenientemente burilado, criando assim uma espécie de "cabeça" arredondada.
E é esta a minha coleção de objectos restaurados e que vêm de um tempo onde, independentemente da condição social de alguém ou do estatuto da peça, nada se deitava fora, tudo se aproveitava, reutilizava e reparava. Hoje vivemos num mundo muito diferente, em que rapidamente nos desfazemos das coisas. Tão rapidamente que basta uma avaria para termos que comprar novo. Já muito pouco se conserta. Resta-nos então ir admirando estes exemplos de recuperação e preservação

9 comentários:

  1. Que interessante Maria Paula. Não sabia que possuía tantas peças com todos estes arranjos tão inventivos.
    O blog do Sr. Baseman conheci-o a partir da sua informação, e, a partir daí, passei a ser um seu assíduo frequentador.
    Fico sempre admirado com a imaginação dos nossos avós, para quem a sociedade não era de consumo, mas antes de preservar aquilo que se tem da forma mais inventiva, barata e capaz possível.
    Eu tenho, como todos nós, os amantes da faiança, peças cheias de gatos, feitos nos mais diversos materiais, desde ao latão, passando pelo ferro e outros que me parecem de prata, mas sem certeza.
    Tenho um antigo copo de cristal lapidado que alguém se recusou a deitar fora, e mandou unir o pé ao copo propriamente dito com uma estrutura de um anel com ganchos em prata muito original, e que me dá prazer ver.
    Mas os arranjos nestas suas peças são absolutamente fabulosos e criativos. Muito bonitos.
    Esta arte de recrear é realmente fantástica e demonstra uma forma de vida que hoje, tempo do usar e deitar fora, nos parece completamente alheio.
    Agradeço-lhe esta informação, pois pensava que só lá por fora é que era possível encontrar este tipo de peças. Eu que sou um frequentador assíduo de feiras de velharias não consigo encontrar estes arranjos imaginativos.
    Espero e desejo que esteja a ter tempos muito bons e profícuos
    Manel

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  2. Caro Manel
    É sempre bom vê-lo por aqui.
    Nestas habituais tertúlias sobre velharias, já constatamos como por vezes, os nossos gostos se vão influenciando mutuamente. Ou seja porque descobrimos algum assunto que nos é novo por completo, ou porque começamos a despertar para o encanto de certas peças.Acho que foi o que me aconteceu com os objetos reparados ou restaurados; acabo sempre por não saber se há alguma diferença nestes dois conceitos. Talvez o "reparado" tenha surgido ma minha mente por influência do titulo do blog do Andrew Basemen e afinal, as duas palavras acabem por ter o mesmo significado.
    Seja como for gosto das peças assim recuperadas e só lamento que pelas nossas feiras não apareçam mais.Nesse tempo, em que tudo se recuperava e transformava o ritmo de vida era diferente e não havia tanta abundância de bens materiais. Não precisamos de recuar muito tempo. Enquanto jovem, quantas calças minhas não foram posteriormente transformadas em saias,as malhas caídas das collants não eram motivo para irem para o lixo, mandavam-se apanhar, os tachos eram reparados com uma soldadura não sei de que material :) Enfim tempos diferentes. Atualmente impressiona-me a facilidade com que se deita fora mas é muito difícil remar contra esta maré. Não calcula a quantidade de lojas que corri para mandar consertar a minha impressora. Não consegui. Solução comprar uma nova. Um autêntico desperdício.Pelo menos já há pontos de recolha para aproveitamento dos componentes.

    Fiquei muito curiosa sobre esse seu copo de cristal Conhecendo o seu bom gosto como conheço, parece que adivinho uma peça de grande beleza. Não quererá o Luís dedicar-lhe um post no seu "Velharias"?
    Já me preparo para desfrutar da companhia dos meus filhos emigrados. A vida cá por casa renasce e eu também.Uma boa semana Manel.

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  3. Maria Paula

    Gostei deste seu post, inspirado num dos blogs mais interessantes do colecionismo, o Past Imperfect do Andrew Basemen, que eu conheci através de si.

    Os reaproveitamentos tem uma história tão velha como o mundo. Recentemente, aqui no Museu de Arte Antiga descobriu-se que Custódia real da Bemposta era um reaproveitamento de uma custódia mais antiga e que tinha aplicadas as jóias, que pertenceram à antiga duquesa de Abrantes.

    Algumas destas grandes peças, que vemos nos museus e acreditamos terem sido feitas de uma empreitada só, são realizadas em várias épocas e com materiais provenientes de diversos pontos do globo. Há uns anos houve uma exposição na Gulbenkian, a Exótica, que mostrava bem como essas obras se iam formando ao longo do tempo.

    Claro, nós não temos dinheiro para as grandes peças de ourivesaria, mas podemo-nos dedicar à faiança ou ao mobiliário e fazer colecções dessas curiosidades.

    Bjos

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    1. Caro Luís
      Cada vez mais me deixo seduzir por peças de uso comum restauradas tendo em vista a sua reutilização. Acho que é aqui que reside o encanto. Restaurar não porque é uma obra de arte ou objeto de grande valor artístico, mas, porque apesar da sua banalidade é indispensável ao funcionamento da casa de uma qualquer família.Gosto de objetos funcionais.Aqui por casa há poucos bibelôs :)
      Bjs e uma boa semana

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  4. Adorei esses restauros, aliás, reaproveitamentos de objetos que se quebraram. A chávena com o pegador enferrujado foi o que eu mais gostei.
    Boas ideias que prolongam a vida de objetos que não queremos jogar fora e, o melhor, é que os restauros são bem visíveis, soluções modernas e criativas. A taça ficou linda com a base de madeira.
    Um abraço.

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  5. Caro Jorge Santori
    Obrigada e também um bom ano de 2018!
    Os objetos restaurados e devolvidos ao seu uso habitual revestem-e de um encanto muito especial, que a mim é difícil resistir :) Aqui por Portugal o restauro mais comum são os chamados "gatos" ou seja os agrafes.Outras soluções são mais difíceis de encontrar e quando as encontro não as deixo pra trás, até porque, regra geral estão a um bom preço :)
    Um abraço

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  6. Olá Maria Paula!
    Espero que esta mensagem a encontre bem!
    Vez ou outra dou uma passada aqui pelo seu blog para ver se tem alguma novidade... Isso já faz quase um ano...
    Hoje, particularmente, passei o dia inteiro lendo suas publicações desde 2010!
    Acredito que não sou o único a sentir saudades das suas fotos, recordações e histórias...
    Como eu disse anteriormente, espero que esteja tudo bem com você!

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    1. Olá C.Deveikis!
      Fico muito feliz com a sua presença e com as suas palavras! Muito obrigada!Felizmente está tudo bem comigo e com os meus :) Obrigada pela sua preocupação. A verdade é que que tenho andado arredada deste blog, nem sei bem porquê, pois continuo uma apaixonada pelas velharias e pelos outros assuntos de que gosto, continuo a comprar peças interessantes, tenho o pc carregado de fotos mas...depois, todas as tentativas de escrita me saem goradas.Tenho que reverter a situação :) não só em consideração pelos amigos que aqui fiz (onde o incluo a si) e que tanto estimo , mas também para passar à escrita informação que vou recolhendo num espírito de partilha e amizade. Escrever ajuda a sistematizar ideias e a consolidar conhecimentos. Um grande abraço e mais uma vez obrigada pelo carinho e pelo incentivo.

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