
O meu pai nascido e criado em Lisboa até aos vinte e poucos anos, pediu-me um dia que o ajudasse a tentar descobrir a casa dos seus avós paternos em Pombeiro, Felgueiras, onde em criança chegara a passar férias, nunca mais tendo lá voltado. Mal houve oportunidade lá fomos. Senti o meu pai emocionado…e como hoje o compreendo! Tinha como pontos de referência o nome da casa (Vila Etelvira), que esta se situava próximo do Mosteiro de Pombeiro, e as memórias que retinha através de uma velha fotografia da casa. Como seria de esperar, já nada estava como há setenta e muitos anos… Mas o certo é que encontrámos a casa, ou melhor, as suas ruínas, invadidas pela vegetação. Mas conseguimos entrar. O meu pai estava muito, muito comovido, apontando o que restava de cada compartimento, evocando situações e pessoas que lhe eram queridas. Numa das paredes do rés-do-chão, e caídos no chão, no meio do matagal, ainda se podiam ver alguns azulejos. Afastei as silvas, arranhei os braços, mas o facto é que trouxe três ou quatro dos que estavam no chão. Não sabia muito bem que destino lhes dar. Um dia, passados largos meses, a ideia surgiu! Integrar os azulejos que pudesse nas paredes da minha própria cozinha. Mas como? Emoldurá-los não, picar paredes nem pensar! Fi-lo de uma maneira muito artesanal. Depois de mais ou menos alisado (só se aproveitou um), colei-lhe por trás uma cartolina grossa, depois uma fita-cola de dupla face e finalmente colei-o, na parede. Gostei do resultado final, mas ainda gosto mais do olhar embevecido que o meu pai lhe deita e das conversas que nas tertúlias familiares este azulejo colado na minha cozinha provoca.