Em Vila Nova de Foz Côa, esta casa que atraiu a minha atenção pelo conjunto de azulejos que encimam todas as janelas e portas é conhecida como "A casa do conde de Pinhel".
Fachada principal |
Vá-se lá saber porquê, sempre achei que tal designação não tinha fundamento, que ali, nunca nenhum conde de Pinhel teria vivido. Para fazer este post resolvi, então, tirar estas dúvidas a limpo e efetuar uma pequena pesquisa sobre esta casa. Pouco ou nada encontrei, a não ser uma alusão feita numa interessante comunicação sobre a "Memória Antoniana em Vila Nova de Foz Côa", no capítulo que toca ao património construído nesta vila. Para mim foi importante esta referência pois deu sentido à informação inicial e da qual eu duvidara, por nunca ter encontrado dados que relacionassem esta casa ao Conde de Pinhel (todos me conduziam aos seus palacetes do Porto, Lisboa e claro Pinhel - a Casa Grande_) cheguei até, a pôr a hipótese, de tal designação se dever a qualquer historieta popular sem qualquer tipo de fundamento.A brevíssima referência que descobri levam-me agora a crer que esta casa tenha realmente pertencido ao 1º conde Pinhel, título criado pelo rei D. Carlos a favor de Manuel António de Almeida.
Fachada lateral |
O seu interesse estético reside no conjunto formado pelas janelas e portas com molduras de granito encimados por bonitos conjuntos de azulejos, com dois querubins que ladeiam a composição e que, olhando para baixo parece que zelam as entradas da casa. Não fossem estes pormenores arquitetónicos e esta, seria uma casa sem atrativos especiais.
Questiono-me sobre a época destes azulejos e qual a sua proveniência. Será que fizeram parte da conceção original da casa, ou terão sido colocados posteriormente?
A casa corresponde à época em que viveu o 1º conde de Pinhel (1860-1929) e muito provavelmente foi recebendo obras ao longo do tempo que podem ter alterado a construção inicial.
Pormenor dos azulejos |
Estas são questões que me foram surgindo, mas que, de forma alguma, foram motivadoras deste post. Esse mérito é exclusivamente destas portas e janelas e dos seus azulejos rigorosamente iguais, formando assim um conjunto extremamente harmonioso. Não posso terminar sem referir que, quando se vê tanto património arquitetónico mal tratado e abandonado, é um bálsamo, encontrar casas tão bem preservadas e cuidadas como esta.
Olá Maria Paula,
ResponderEliminarEu adoro como uma belo ornamento de azulejos pode mudar completamente a maneira como apreendemos a arquitetura de um imóvel.
Realmente ele não seria nada demais, se não fossem os ornamentos. E se estes fossem pintados como afrescos no mesmo local, não só provavelmente já se teriam perdido com o desgaste, como mesmo quando novos não terial o mesmo impacto, pois jamais o azul seria o mesmo, a pintura provavelmente não seria tão fluida, livre.
Curioso que hoje mesmo estava comentando em um post de meu novo blog sobre azulejos antigos no Rio de Janeiro, sobre uma construção neocolonial do final dos anos 1920, como eu acho os azulejos da tal construção duros, sem soltura, sem vida. Aqui é justamento o oposto, é justamente o que mais amo na pintura de azulejos portuguesa! O traço corre, a mão é livre, o gesto é forte, porém preciso.
Muito obrigado por iluminar meu dia com este belo post.
Olá Fábio
ResponderEliminarÉ sempre um prazer vê-lo por aqui!
Realmente o azulejo é um material muito versátil e sobre os frescos tem a vantagem de serem praticamente inalteráveis. Só não resistem aos roubos, demolições e placas publicitárias que, a maior parte das vezes são colocadas sem nenhuma preocupação de estragar o menos possível. Esburacam onde calha, e por vezes alguns centímetros mais abaixo ou acima faria toda a diferença.
No caso desta casa,os azulejos são a beleza e a harmonia da construção.Também aprecio a simetria destas janelas e portas. Há quem diga que a simetria é rigidez. Não concordo :)
Um abraço e um bom fim de semana.
Não fora o mundo automóvel e o sinal de trânsito, a sua primeira fotografia seria um primor ... apetece fazê-los desaparecer!
ResponderEliminarTodo o verde, que se adivinha fresco, das árvores e arbustos, a fachada branca, o telhado em estado quase pristino (até lhes perdoo as clarabóias), os remates de azulejo que ornamentam os vãos, o chão em paralelepípedos, uma versão cromática do céu, algo mais escura, forma uma fotografia lindíssima!
Os meus parabéns. Uma boa imagem de arquitetura.
Folgo igualmente por dar conta que a casa se encontra em estado invejável ... ainda bem, depois de tantos atentados é refrescante percebê-lo.
Alguém de gosto não fez desta construção um mamarracho pós moderno, ou uma construção "vanguardista" de aço e vidro, como fizeram com a malograda "Casa dos Bicos", aqui em Lisboa.
Ainda bem que fez este post Maria Paula, fez-me bem ao espírito!
Fez-me lembrar o restauro fantástico, e belíssimo, que o Joaquim Malvar (um comentador do Luís Montalvão) fez no seu solar dos Morgados de Vilartão, em Trás-os-Montes.
Uma boa semana
Manel
Os automóveis, fios elétricos, sinais de trânsito e afins são uma chatice para quem gosta de uma foto limpa e sem ruído.Tenho desistido de algumas precisamente por causa destes pormenores que desfeiam qualquer fotografia.Também tive pena que o céu nesse dia estivesse plúmbeo. Um céu azul, azul conferiria outra beleza à foto, mas em fevereiro ou março, naquelas bandas é mais frequente aquele tempo encoberto.
EliminarTenho seguido o blogue do Joaquim Malvar e é de admirar o fantástico trabalho de recuperação que ele tem feito.Lembro-me sempre dos inúmeros solares das Terras de Basto, que, na década de oitenta estavam,na sua grande maioria, muito desprezados.Parece que a situação melhorou bastante desde aí.Ainda bem.
Um abraço e boa semana
Olá Maria Paula - Parabéns - um belo post. Solar que conheci há coisa de 20 anos - na sua frente registei uma foto por tal como a si me chamou a atenção o remate artístico dos azulejos na cimeira das cantarias , porque em abono da verdade a casa não sendo muito alta não tem outros atrativos meritórios - quando a conheci não tinha no telhado as janelas de vidro- do mal o menos - valha-nos o restauro.
ResponderEliminarAcabei de chegar de uma semana em terras de Sicó.
Boa semana de trabalho
Beijos
Isabel
Olá Maria Isabel
EliminarInteressante ter conhecido esta casa há tantos anos. Eu, que vou muitas vezes para a Beira, só no ano passado tive oportunidade de ir a Vila Nova de Foz Côa, e tudo por causa de um belíssimo azeite da Cooperativa local:)
Sabe que desta casa ficou por fotografar o medalhão da fachada principal; chuviscava e não consegui tirar nenhuma foto.Hei de lá voltar para o fotografar, não só a ele, mas a mais algumas casas muito interessantes, quer pelos frisos de azulejos, quer por outros pormenores muito interessantes.
Espero que venha retemperada da sua estadia na serra do Sicó.
Beijos e boa semana.
Maria Paula
ResponderEliminarOs azulejos parecem ser já coisa do início do Século XX, Víuva Lamego ou Fábrica de Santana ou Lusitânia, mas apesar de não serem muito antigos estão colocados de forma muito feliz, demonstrando mais uma vez versatilidade do azulejo.
Os automóveis são de tal maneira invasivos das fotografias, que quando desfolhamos uma história da arte em Portugal, nos perguntamos se não serão os carros o objecto de estudo, em vez das catedrais ou dos palácios.
Bjos
Esta Casa ,que os Fozcoenses chamam dos Condes de Pinhel, resulta do facto de ter pertencido a Luis de Campos Henriques, Pai de Dona Luisa de campos Henriques , que casou com Manuel António de Almeida , agraciado que foi com o título de Visconde e Conde de Pinhelt
ResponderEliminarO Solar em causa foi herdado por uma das filhas dos Condes de pinhel, D.Sofia de Campos Henriques de Almeida. Hoje pertence a duas das suas filhas, D.Maria do Carmo Campos Henriques Sousa Lara e D. Isabel Marques da Gama. Os azulejos foram mandados colocar nos anos 60 pelo pai destas Senhoras, Sr Fernando Costa
ResponderEliminarCaro Anónimo
EliminarMuito obrigada pelos seus esclareicmentos. Ficaram assim esclarecidas as questões que foram sendo levantadas ao longo do post.
Os azulejos são anteriores a 1938. A casa/solar dos Condes de Pinhel, em Vila Nova de Foz Côa, foi construída nos princípios do século XIX e foi seu primeiro senhor o Dr.Jose António de Campos Henriques, corregedor de Trancoso e juiz de Fora de Pinhel (avô de D. Luísa de Campos Henriques e Almeida, condessa de Pinhel, casada com o visconde e 1.conde de Pinhel, Manuel António de Almeida).
ResponderEliminarMuito obrigada por toda a informação.
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