quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Cantão Popular mais uma vez


Cá estão os dois pratos de que falei outro dia no "Arte, livros e velharias" , a propósito deste  post. Tal como disse na altura, acho este meu prato muito idêntico ao primeiro que a Maria Andrade  mostrou, sendo a principal diferença  a decoração central  menos cheia que o meu prato apresenta. A aba não oferece dúvidas é igual.
O segundo prato, que eu considero muito diferente do habitual, mantém a decoração central "roubada" ao Cantão Popular, faltando-lhe no entanto,  alguns dos  elementos que caraterizam este motivo. Na  decoração da aba, para além do invulgar  elemento decorativo enquanto falamos deste tipo de faiança, foi usada uma técnica mista, que eu creio ser uma  designada por stencil e a outra por esponjado. É este jogo das diferenças e semelhanças que torna estas faianças tão apaixonantes.
Deveria ficar por aqui mas não resisto em mostrar mais um exemplar também ele uma variante interessante do Cantão Popular. Estava à venda no chão por uma ninharia e trouxe-o comigo, apesar de partido e colado com uma cola inapropriada. Não sei muito bem o que se pretendeu representar com aquelas bolas azuis por cima das nuvens e que a mim me sugerem foguetes :) Acho também  curioso, o facto da árvore aparecer do lado esquerdo do prato. 



11 comentários:

  1. Os seus pratos, sobretudo o 1º e o último, são bem típicos deste tipo de loiça.
    Creio (e este facto é-me mais evidente nos pratos mais antigos, onde a aba está feita com algum cuidado acrescido) que o desenho na aba representa um cordame.
    O padrão do centro já o Luís ou a Maria Andrade o exploraram e adiantaram hipóteses para o seu aparecimento, parecendo que a matriz inicial não parece ter sido portuguesa.
    Quanto à àrvore aparecer ao lado esquedo, no padrão original do salgueiro, o chorão aparece efetivamente desse lado.
    Quanto ao seu prato do meio, parece-me ser como diz, um híbrido, o qual me é muito curioso, quer pela decoração da aba quer pela tonalidade de azul utilizada. Não tenho nenhum com esta tonalidade.
    E como gosto muito de esponjados, estou no meu elemento.
    As formas das edificações/pagodes, é perfeitamente orientalizante na sua maioria, apesar de, em algumas interpretações, aparecerem substituídos por arquiteturas mais ocidentais.
    É esta diversidade que me encanta neste motivo e nunca me canso de o admirar, o que faço amiúde.
    Expostos em conjunto numa parede, ou num pano de chaminé, o conjunto destas cerâmicas constituem um ponto fulcral a cuja influência as pessoas não se conseguem furtar. Os olhares convergem de imediato para este tipo de loiça.
    Quanto àquelas bolas que se dispõem em arco, como se fossem fogo de artifício (é esta igualmente uma das minha hipóteses), não tenho certeza do que poderão querer representar. Também tenho um ou outro prato com estes elementos e fico sempre a pensar o que quereriam significar.
    Muito obrigado por nos ter trazido aqui os seus Cantões Populares, que nunca deixam de me fascinar, onde quer que os observe.
    Quanto à sua origem ... se não houver nenhuma marca na parte de trás, será um Deus dará e é esperar que se acerte!
    Sabemos alguns centros e fábricas que fabricaram este padrão, mas as balizas temporais que parecem estabelecer datas para o seu aparecimento ainda não consegui vê-las, mas confesso que gostaria de as ver minimamente estabelecidas. No entanto, parece assente que este padrão aparece no século XIX, mas quando?
    Um bom final de semana, que já nos pisca o olho
    Manel

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    1. Muito obrigada Manel, pela análise objetiva e clara que fez aos pratos que aqui mostrei. A decoração da aba do segundo prato torna-o de facto muito diferente do habitual, tendo sido essa diferença que me levou a comprá-lo. Gostar, gostar, gosto dos que apresentam a decoração mais tradicional, mas estas diferenças motivadas pela imaginação ou pela vontade de inovar geram esta diversidade, à qual é difícil de resistir :)
      Quando olho para algumas destas peças de Cantão Popular parece-me, que certos pormenores são retirados à decoração original para depois serem usados livremente para preencher espaços dando origem a grafismos como por exemplo, as bolas que achamos serem fogo de artificio. Digo isto, porque em algumas peças com uma decoração mais cuidada, aparecem vários tipos de árvores e uma delas, tem a folhagem representada com uma série de bolas. Fará algum sentido? Talvez. Este tema foi tratado por tantas mãos e em tão variadas regiões que é natural que tenha havido diferentes interpretações desde as mais ingénuas às mais elaboradas.
      Quanto à idade e origem destas peças temo bem, que pela ausência de marcas, estas, permaneçam por muito tempo no campo das conjeturas. Limitemo-nos a desfrutar do seu encanto:)
      Uma boa semana

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  2. Olá Maria Paula. Parabéns pelos seus três belos exemplares em Cantão Popular.

    Apesar de exemplares não marcados tenho a sorte de me terem passado outros marcados pelas mãos sem contudo os poder comprar, com isso vou conseguindo distinguir com alguma margem de segurança a sua atribuição de fabrico,na consciência de saber que da mesma fábrica vão aparecendo várias peças de épocas diferentes -, onde as alterações são evidentes seja nos contornos da decoração e da pintura ao jeito dos novos pintores e de novas técnicas que se iam apurando.

    Posto isto, atrevo-me a dizer que o seu 1ºprato é da fábrica Cavaco ,denota pormenores ( abaixo do rodapé os arabescos minúsculos que unem os maiores,cúpulas ao limite do covo, aliás todo ele).

    O 2º tem aparecido nas feiras ultimamente a preços altos. Travei conversa sobre a sua origem na feira de Belém onde vi um par por me intrigar a sua origem -, curiosamente tenho um igual na barra esponjada e no centro o motivo cavalinho. Disseram-se ser fabrico da Corticeira do Porto...fica a informação desta fábrica que se fala pouco dela, de fato pintou esponjados, tenho uma travessa cavalinho com a barra esponjada, assinada.

    O 3º é muito interessante pela particularidade do salgueiro se encontrar no lado oposto ao habitual...as bolinhas em arco foram vastamente pintadas por fábricas da região de Aveiro...
    Agora saber se é produção do norte ou centro...

    Bom fim de semana

    Beijinhos
    Isabel

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    1. Olá Maria Isabel
      Então viu o meu prato numa das feiras a que vai? :) Já sabia que este meu fazia par com outro, pois, pouco tempo depois de o ter comigo, vi outro à venda igualzinho, pertença do mesmo vendedor, portanto… este mundo das velharias começa a ser pequeno :)
      O primeiro prato foi-me vendido como sendo Cavaco, quanto ao último, coitado, estava tão desvalorizado no chão que desconfio até, que quem o vendia pouco perceberia do assunto. Eu agradeci :)Tenho agora a sua opinião e a da Maria Andrade que convergem para a mesma origem. Obrigada.
      Quanto à fábrica da Corticeira, tem razão pouco se fala dela, apesar de haver bonitos exemplares “Cavalinho” à venda. Não tenho nenhuma peça desta fábrica e as que tenho visto até nem são muito caras.
      Beijinhos e boa semana

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  3. Olá,
    Gostei muito de ver seus pratos. Nunca me canso deste motivo, tão rico, variado e misterioso em sua origem.
    Como a Isabel se referiu à Fábrica Corticeira do Porto, lembrei-me de uma interessante monografia sobre fábricas de louça do Porto, que fala brevemente sobre esta fábrica, a última que é mencionada, por sinal. Talvez interesse aos que ainda não conhecem este trabalho:
    http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3834.pdf
    abraços!

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    1. Caro Fábio
      Estive a ler a monografia sobre as fábricas de cerâmica na região do Porto e é impressionante verificar o número de fábricas que foram coexistindo por longos períodos de tempo não só no Porto propriamente dito como também em Gaia.Aliás, uma das fotos mostra muito bem essa distribuição de fábricas e a maior implementação é em Gaia.Da Fábrica de Massarelos, só restam creio que dois fornos, que felizmente estão preservados.
      Quanto à fábrica da Corticeira é pouco falada, mas aparecem bastantes peças à venda,sendo as mais comuns, as decoradas com o motivo vulgarmente designado por "cavalinho".
      Quanto ao Cantão Popular é quase inexplicável o fascínio que ele exerce sobre os amantes da faiança.
      Beijinhos e boa semana.
      Em baixo uma foto forno de Massarelos.
      http://www.panoramio.com/photo/51154879

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    2. Olá Maria Paula,
      Fico feliz que você tenha apreciado o artigo. Foi mesmo uma infinidade de fábricas! Imagino que muitas deveriam ser pequeninas.
      b'jinhos!

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  4. Maria Paula, os seus três pratos de cantão popular fazem um post muito bonito!
    Quanto às atribuições, estou de acordo com a M. Isabel em relação ao primeiro e ao terceiro.
    O primeiro é em tudo semelhante aos pratos Cavaco, talvez de uma época anterior aos marcados, que têm a decoração mais cheia.
    O último que mostra foi um bom acrescento à sua coleção! O meu palpite é que seja fabrico de Aveiro, já que há elementos comuns aos das Faianças da Pinheira - as pequenas esferas no céu - e aos da Fábrica de S. Roque - aquela espécie de remoinhos em baixo, na água.
    O segundo é o meu preferido, com uma cercadura linda e invulgar e ao centro uma decoração Cantão como que a formar um medalhão, mas mais não lhe sei dizer.
    Parabéns pela coleção, que vai aumentando!
    Beijos

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    1. Olá Maria Andrade, obrigada pela sua opinião. O primeiro e terceiro prato são realmente os mais comuns, mas mesmo assim, atribuir-se-lhes uma origem revela-se tarefa não muito fácil. O segundo prato, apesar de ser fora de vulgar por força da cercadura inusitada neste tipo de decoração, não deixa de ser bonito, embora eu prefira os mais tradicionais. A minha coleção tem aumentado, mas ainda me faltam algumas peças, como por exemplo, terrinas. Aqui, pelas feiras das minhas redondezas não aparecem com frequência e nas vendas online são muito caras. Enquanto isso, vou-me deleitando com as lindas peças que a Maria Andrade, Maria Isabel e Luís vão mostrando :)
      Beijinhos e um resto de boa semana

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  5. Maria Paula

    Já era para ter aqui vindo, mas senti que me tinha que preparar um pouco mais para fazer um comentário aceitável.

    Não me parece que o prmeiro prato seja Cavaco. Se o desenho se assemelha, as cores são muito diferentes. Os azuis do Cavaco são muito escuros e fundo é de um branco azulado. Já mostrei no meu blog um desses pratos marcado Cavaco http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2010/09/mais-alguns-dados-sobre-o-cantao.htm

    O segundo prato não tenho opinião.

    Sobre o terceiro, concordo com os outros comentadores. Poderá ser da Pinheira. Tenho um prato com marca e decorado com essas bolinhas, que mostrei em tb em http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2010/09/mais-alguns-dados-sobre-o-cantao.html

    Beijos e obrigado pela partilha

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    1. Caro Luís
      Obrigada pela amabilidade do comentário cuidado.

      Sempre a mesma incógnita sobre a origem das peças não marcadas em que as diferenças subtis nada ajudam. Realmente a grande diferença entre o meu prato e o da Maria Andrade tem a ver com o azul e com a exuberância do riscado, no caso do meu, muito parco.
      O segundo prato é uma produção muito cuidada e acho piada ao facto de terem pintado por cima das nuvens, pormenores das árvores que decoram lateralmente o Cantão Popular. Parece-me que a intenção deste aproveitamento terá sido unicamente o de preencher espaço. Recordo-me, que o aproveitamento de pormenores para encher espaços que se achavam muito vazios era uma prática corrente no mundo dos bordados. Muitas vezes vi a minha avó fazer isto, acrescentar a um risco de determinado bordado, motivos de outros trabalhos que nada tinham a ver um com o outro. E conseguia soluções engraçadas :)
      O terceiro prato talvez seja mesmo da Pinheira, uma vez que o Luís tem um marcado.
      Beijos e continuação de boa semana

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