domingo, 29 de setembro de 2013

Fachada com azulejos de duas cores e friso Arte Nova

Hoje mostro mais uma fachada integralmente revestida a azulejo, num dos raros casos que conheço aqui pelo Norte onde foram utilizadas duas cores. Esta casa fica situada numa rua muito próxima desta,da qual já falei, também a propósito dos azulejos de fachada. São ruas muito antigas da cidade de Braga que existiam já na Idade Média e que na segunda metade do século XIX sofreram grandes obras de  requalificação, que lhes alteraram completamente a aparência de origem medieval.

Rua da Erva,  rua do Poço, rua da Judiaria Velha ou rua de Santa Maria  foram as várias designações toponímicas que a atual rua D. Gonçalo Pereira sofreu  ao longo da Idade Média.

Como digo no inicio,  nunca vi aqui pelo Norte fachadas revestidas a azulejos de duas cores. No Rio de Janeiro esta opção foi frequente, conforme vamos tendo oportunidade de ver  no blogue  do nosso amigo Fábio Carvalho. Na Cidade Maravilhosa este revestimento a duas cores, toma as mais variadas conjugações. Será que há alguma relação entre estas opções e o temperamento ou o gosto estético de cada povo?
Mas voltemos aos nossos azulejos, que eles sim são o tema do post de hoje. Gosto da combinação do cor-de-rosa e do castanho, mas, sem dúvida, que é o friso em estilo Arte Nova, que confere toda a beleza ao edifício. Bem, por uma questão de justiça não podemos  ignorar a graciosidade do ferro forjado  utilizado nas varandas, janelas e portas.
As linhas ondulantes que se enroscam e entrelaçam emoldurando a margarida e a pomba são bem significativas do estilo do período Arte Nova. 
Estas linhas serpentadas são conhecidas como “linhas em chicote” e a origem desta designação está na analogia estabelecida entre o trabalho de tapeçaria de Hermann Obrist, Cyclamen, e as correias dum chicote. Hermann Obrist foi um escultor suíço que integrou o movimento  Arte Nova e que, para além da escultura se destacou também noutros campos da arte. 
Cyclamen (1892)

11 comentários:

  1. É sem dúvida alguma um prédio muito bonito, e também gosto da combinação do rosa com o castanho, e como isto se relaciona com o belo friso ao topo da construção.
    Quisera poder medir os azulejos retangulares de cor sólida, pois eles parecem similares com uma parte dos que encontro por aqui no Rio de Janeiro. Aqui há 2 tipos destes azulejo: um mais fino e mais horizontal, e não tão alto no chanfrado, que me parecem bastante similares aos que você nos mostrou hoje, que me lembram também os azulejos do metrô de Londres, e um outro, bem mais "gordinho", mais alto no chanfrado, menos horizontal, menos retangular, tendendo levemente ao quadrado,
    Poder fazer estas comparações ajudam muito em minhas teorias de todo tolas, mas que são uma das minhas diversões, e por isso, lhe agradeço por esta postagem hoje.
    abraços!

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    1. Caro Fábio
      Por aqui é mais comum encontrar os azulejos que refere em primeiro lugar ou seja os tais mais horizontais. Não fazia ideia da importância das medidas dos azulejos para os seus trabalhos. O próximo objeto a integrar de forma permanente o recheio da minha carteira será uma régua! Prometo que para a próxima lhe darei as medidas possíveis :) A sério.
      Beijinhos

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  2. Maria Paula, gostei muito deste post em que nos mostra uma bela fachada de azulejos da sua cidade. Realmente não é vulgar por cá ver-se as duas cores de azulejos e ainda o friso a rematar.
    Já tenho pensado que deve haver em Braga muitas fachadas bonitas para fotografar e aliás já vimos uma ou outra aqui no seu blogue.
    Adoro estas com frisos Arte Nova e já fotografei algumas na Figueira da Foz, só que ficaram em "banho Maria" no cartão da máquina :)
    Oxalá continue a registar e a partilhar aqui estes bonitos exemplares da nossa arquitetura nortenha.
    Beijinhos

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    1. Olá Maria Andrade
      Sei muito bem como é essa coisa das fotos em "banho Maria" ou em lista de espera. É um entusiasmo grande quando nos deparamos com estes pormenores tão do nosso agrado e depois com tanto material, nem sabemos muito bem para que lado nos virar :)Também tenho aqui um espólio considerável de fotos :) e na hora de decidir qual delas mostrar lá vem o dilema :) (fossem todos por este motivo).
      Braga, mesmo apesar dos crimes urbanísticos que têm sido cometidos, ainda mantém zonas antigas razoavelmente bem conservadas. A mentalidade do "bota abaixo" felizmente está atenuada e as pessoas, cada vez mais são sensíveis à importância da preservação do património. Próximo destas ruas por onde tenho andado a fotografar há uma coleção razoávell de edifícios com os tais frisos Arte Nova.Todos muito bonitos. O desta casa que hoje mostro é o mais invulgar de todos.
      Beijinhos

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  3. O edifício é uma graça.
    Típica de uma época, esta fachada apresenta um contraste muito feliz entre os panos principais, rosa, o friso Arte Nova e as janelas e portas de sacada de caixilhos brancos, que, talvez já alterados, para se adaptarem aos dias de hoje, foram-no de forma a não alterar de forma negativa o conjunto.
    O piso superior, com certeza adicionado posteriormente, dá um desequilíbrio harmonioso ao conjunto, pois o facto de terem adicionado colunas aos pares faz esta construção muito mais interessante, parecendo mesmo ter um certo ar renascença.
    Até as portas em vermelho do piso térreo estão bem com o rosa envolvente.
    A única nota dissonante, no meu entender, é o friso amarelo do piso térreo.

    Obrich é um escultor pouco conhecido, e ainda menos em Portugal.
    Viveu a maior parte da sua vida na Alemanha, onde, juntamente com outros artistas, participou na formação do movimento Jugendstil, uma das vertentes da Arte Nova, na Alemanha, a qual tinha igualmente algumas ligações aos princípios da "Sezession", na Áustria.
    Também, numa fase posterior (ele morre em 1927), terá algo a ver com a ideologia desenvolvida pela Bauhaus de Gropius, iniciada em 1919 no Weimer, onde, afinal, ele tinha também vivido há alguns anos atrás.
    Com uma formação inicial em medicina, acabou por se virar para as artes e ofícios, estudando escultura tanto em Paris, onde conhece Rodin, como em Florença, onde conheceu um dos grandes historiadores de arte da Renascença, Bernard Berenson.
    Conheceu igualmente os centros onde se desenvolviam as principais vertentes da Arte Nova, pois, sendo filho de mãe escocesa, rápido foi para Inglaterra onde tomou contato com o Arts and Crafts, e talvez tenha sido nesta sequência que, em 1892, tenha desenvolvido, juntamente com uma amiga da mãe, um atelier de bordados, creio que em Munique.
    Observador pertinente da natureza deve ter sido aqui que se inspirou para a sua linha curva, para contruir as suas fontes e mausoléus, elementos em que se distinguiu na última parte da sua vida, pois, como referiam os princípios da Arte Nova, na natureza a linha reta não predomina.
    Mas este tipo de linha já tinha sido utilizada por outros, como na obra gráfica do checo Alphonse Mucha, para o que se inspirou na forma orgânica feminina, e muito especialmente nos seus cabelos e roupas.
    Também na arquitetura, em Chicago, Sullivan inspirava-se nos motivos ornamentais celtas para desenhar as suas linhas curvas e contracurvas.
    No movimento da Sezession austríaca, Wagner preenchia as suas fachadas, como na da Casa Majolica, em Viena, com formas curvas naturalistas, inspiradas nos temas vegetalistas.
    Este mundo da Arte Nova é inesgotável e sempre admirável.
    Quero agradecer-lhe o ter trazido aqui este nome de Obrich que é, injustamente, esquecido.
    Para não falar desta fachada tão feliz e que seguramente fará as delícias de quem passa.
    Estendi-me em demasia, peço desculpa; não pretendia ser maçador e aborrecido com este espalhar de factos e dados, mas o tema é tão aliciante que não consegui conter-me
    Manel

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  4. Manel!
    É sempre com muita atenção que o leio, por isso, nunca é maçador nem me aborrece de forma alguma. Antes pelo contrário. Para além de aprender sempre mais, consolido a informação mais recente que vou obtendo. Como a maior parte das pessoas hoje em dia, não recorro só aos livros para pesquisar. Uso também a internet, mas sempre consciente de que há ali, muita informação não fidedigna. Aliás são frequentes as discrepâncias entre as diferentes fontes, daí a importância da escolha da informação que por aqui vamos partilhando. E por falar nisto, reparo que o Manel escreve Obrich e eu, Obrist. Obricht, sem dúvida que tem uma sonoridade e uma grafia muito germânica e ele é natural do de Zurique onde a língua oficial é o alemão! E Obrist? Será que é alguma corruptela de Obricht? Fica a dúvida.

    Não imagina como me fascinam aqueles tipos de acrescentos ou sótãos (não sei muito bem como defini-los). Quando era adolescente achava que ali seria o meu quarto ideal. Esteticamente são muito bonitos. Será que foi construído para contornar algum problema de limite de altura do prédio? Os azulejos e o ferro forjado iguais aos da casa levam-me a crer que esta pequena construção será de origem.
    Um bom fim de semana que se aproxima a passos largos esperando que a chuva nos dê alguma trégua :)

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    1. É a Maria Paula que está com toda a razão. Andei a ler e a escrever algo sobre o arquiteto da Secessão vienense Joseph Maria Olbrich (contemporâneo de Obrist), e a terminação deste passou por osmose para o outro, o que não deveria ter acontecido.
      Engano meu Maria Paula. O nome de Obrist nunca foi Obrich, que eu saiba, a não ser no meu texto :-(
      Manel

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    2. Caro Manel
      Está esclarecida a diferença entre Obrist e Olbrich:) Até com os seus enganos eu lucro. Fiquei a saber mais um bocadinho:)
      Um bom fim-de-semana que, ao que parece, já não será de verão.

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  5. Eu queria dizer que ele é natural do Cantão de Zurique!

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  6. Maria Paula

    Gostei muito desse seu post e da relação que fez entre os azulejos e a obra de Hermann Obrist, artista que eu não conhecia.

    É curioso, que a Arte Nova não tem grande expressão em Portugal, excepto na azulejaria. Os prédios e moradias da época do exemplar que fotografou estão cheios de paneis azulejares arte nova muito interessantes.

    Também partilho o fascínio pelas mansardas, águas-furtadas e trapeiras. Aliás vivo numa água-furtada, que não é a mais alta de Alfama, como no fado da Amália, mas é seguramente muito alta e com vista para o Castelo, a Graça, a Senhora do Monte e ainda uma nesga de Tejo.

    Bjos

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  7. Olá Luís
    Também desconhecia Hermann Obrist, até começar a pesquisar a origem da expressão "linhas em chicote". Quando descobri estes friso de azulejos associei-os de imediato àquela expressão e depois foi a descoberta do grande nome da Arte Nova que é Hermann Obrist. Cá em Portugal, realmente, foi na azulejaria, que a Arte Nova teve maior incremento, mas, no Porto encontram-se alguns edifícios que seguiram na sua arquitetura, este estilo.Para mim, o mais emblemático é o Café Majestic, na rua de Santa Catarina. Sempre que vou ao Porto faço questão de lá entrar e desfrutar do seu ambiente e não só....o café acompanhado por um soberbo quadradinho de chocolate preto é único :)
    As águas-furtadas são um charme. Muitas vezes dou comigo a pensar na possibilidade de acrescentar um espaço destes à minha casa:) Devaneios! :) A sua bela mansarda que já vou conhecendo, não será a mais alta, mas que será uma das mais bonitas não duvido.
    Beijos

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