quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Prato infantil com rima

Sempre achei muita graça à loiça para crianças embora não tenha memórias delas na minha infância. Eram outros tempos, em terras longínquas e ao "mato" chegava só o essencial. O prato do adulto era o prato da criança, o mesmo acontecendo com o garfo, com a colher e com o copo. Muitos gastos e grandes preocupações já tinham os papás do  "mato". Era a água que tinha que ser fervida e filtrada posteriormente era a toma  semanal do Daraprim  era garantir que o mosquiteiro resistisse às brincadeiras da criançada e se mantivesse na sua posição protetora durante toda a noite e tantas outras preocupações inerentes à vida em África, em meados do século XX. Foram  outros tempos e outros lugares que me fizeram viver uma infância de ouro.
A autora deste blog. O sorriso não deixa margens para dúvidas quanto à sua felicidade
 Infâncias felizes terão tido também as crianças que comeram as suas papinhas neste mimoso prato de fabrico inglês, produção da empresa  W R Midwinter; fundada em 1910 por William Robison Midwinter, em Burslem no coração das Staffordshire potteries, uma área  industrial que englobava as cidades de Tunstall, Burslem, Hankley, Stoke, Fenton e Longton e que passou a chamar-se  Stoke-on-Trent, depois destas cidades terem sido agregadas em 1910.  Esta companhia, como quase todos os empreendimentos industriais teve os seus períodos de ascensão e de dificuldades financeiras, levando-a a estabelecer frequentes sociedades com outras empresas do ramo. Acaba em 1987 como Meakin & Midwinter Holding Ltd.


Uma das vertentes em que a Midwinter se sobressaiu foi  na produção de loiça para crianças, não se poupando a esforços para garantir a sua qualidade. Em 1927 contratou o conceituado cartunista e ilustrador inglês, William Heath Robinson que se inspirou nas lengalengas infantis para decorar  esta linha de loiça. Foram dezasseis motivos inspirados noutras tantas histórias.
A decoração do meu prato inspirou-se na lengalenga "Hey didle didle" ou "The cow jumped over the moon" e conta a história aparentemente  sem nexo, dum gato e dum violino, duma vaca que salta para a lua, um cão que ri e de um prato que foge com a colher! Mas as lengalengas caraterizam-se precisamente por alguma falta de lógica e por serem histórias curtas, rimadas, ritmadas, com palavras e expressões repetidas e quase sempre relacionadas com o imaginário e com o quotidiano das crianças.

No período do pós-guerra era frequente as peças da W. R. Midwinter incluírem não só o nome da empresa, mas também, em muitos casos, o nome da forma e o nome do artista responsável pela conceção do motivo decorativo. Esta particularidade torna estas peças muito apetecíveis para os colecionadores especialmente os ingleses e permite datarem-se as peças com pequenas margens de erro. Por exemplo, este meu prato deve ter sido produzido entre 1927, data em que W. Heath Robinson foi contratado e 1932, data em que a empresa acrescenta ao seu nome comercial a abreviatura " Lda." O meu prato não apresenta esta abreviatura.
A assinatura do autor do motivo decorativo

 A marca do meu prato ainda não apresenta a abreviatura "Lda."
 Quis terminar este post com uma graça e tentei  colocar  um video do youtube com uma das versões do "Hey didle didle". Foi semelhante a trapalhada que consegui, até, eliminar tudo! Felizmente tinha a maior parte do texto em word, mas que também já tinha ido sendo apagado. Valeu-me aquela setinha, lá em cima que permite retroceder no texto e consegui recuperar a maior parte. Resta-me acabar sem graça nenhuma, mas satisfeita por não ter tido um trabalho inglório.

Alguma informação que utilizei e que considero muito útil.






10 comentários:

  1. A Maria Paula está perita na louça inglesa! Boa pesquisa, e ainda bem que temos a sorte de partilhar connosco.
    O seu prato é delicioso. Tenho algumas memórias infantis destas loiças, que me compraram para que o castigo das horas das refeições fosse mais suportável ... debalde!
    Nunca tinha fome, e comer era um castigo diário que dava direito a algumas bofetadas (poucas, devo confessar), puxões de orelhas, gritos e, saturados, diziam-me: "Não sais da mesa enquanto não comeres tudo!" ... e eu fazia "bochecha", com a fantasia de que assim a quantidade de comida desaparecia mais rápido.
    Ela realmente desaparecia do prato, mas acumulava-se na bochecha e andava à volta, à volta e nada. A hora da refeição era o meu tormento.
    Claro que, mais tarde, no final da tarde, adorava ir para o galinheiro debicar umas pequenas colherzinhas com papas de farinha que faziam para as galinhas ... e disso eu gostava, vá-se lá saber porquê ou como.
    O bife (a carne em África era muito boa e suculenta, cheia de sabor), o peixe, o esparregado, a batata doce frita (que hoje adoro), tudo isso eu não suportava.

    Assim, as suas memórias de África fizeram-me regressar ao passado. As noites eram passadas à volta de uma telefonia que funcionava com uma bateria de automóvel (eletricidade era pouco fiável, havia ... quando havia), e que numa noite da semana radiofundia o "Teatro em sua Casa", programa que a minha mãe não deixava passar, e eu até gostava, talvez pelo aconchego do ambiente, pois raro conseguia ficar acordado muito tempo.
    Tudo isto se passava numa enorme varanda protegida com rede mosquiteira, mas não servia para nada. Os danadinhos arranjavam sempre forma de descobrir um buraco.
    E a rede mosquiteira da cama tinha buracos invisíveis, que as tornava pouco práticas - é verdade que eu tinha pouco cuidado com ela.
    Assim, a toma habitual era de comprimidos de Resochina, que, recordo ainda, complicava-me com o fígado, nem sei bem porquê. Alguma relação deveria haver, mas como não entendo nada deste remédios.
    Lá tinha que suportar as dores de cabeça, que, sem serem diárias, eram frequentes, e um mal estar constante, que me provocava vómitos (talvez por isso tivesse tantos problemas com a hora da refeição).
    O mais estranho é que não me receitavam outra coisa que não me desse estas reações colaterais, é o que hoje ainda me admira.
    Eu queixava-me, lá isso queixava ... mas ... nada. Lá vinha a malfadada Resochina! Durante anos e anos.

    Obrigado por me fazer regressar ao passado, umas coisas boas, outras menos boas, mas as memórias estão cá e é saudável tirá-las do chapéu de vez em quando.
    Uma boa semana
    Manel

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  2. Caro Manel
    Estou muito, muito longe de ser perita neste assunto da loiça inglesa :) Mas é verdade que gosto muito de pesquisar e hoje em dia é fácil. Então no que toca à faiança e porcelana inglesa dá gosto, porque há muita e variada informação. Quantas vezes me disperso, porque a pesquisa de uma marca acaba por levar a um sem número de assuntos diferentes da busca inicial, mas que estão todos relacionados. E assim dou comigo a estudar um bocadinho de cada matéria e consequentemente a aprender, o que é sempre um enriquecimento pessoal.
    Estou a ver pela sua descrição que a vida em África naqueles tempos era muita idêntica nas diferentes colónias.Depois de ter falado no Resochina lembrei-me de que o meu pai referia esse medicamento, só que não sei a propósito de quê. Talvez, alternasse com o Daraprim, que andava sempre no cesto do pão que ia para a mesa às refeições , para garantir que não havia esquecimentos. Sabe que eu e o meu irmão mais velhos éramos crianças que gostávamos de comer. As minhas memórias das horas da refeição são pacíficas. Nada de histórias, ralhetes ou idas até à janela ver o passarinho  Isso acontecia com a minha irmã mais nova (11 anos) que, segundo os mês pais era “um pisco”. Mas mesmo comendo bem, muitas vezes complementávamos a nossa refeição junto à fogueira, comendo com a mão o funge e o peixe seco. O meu pai desesperava com a possibilidade de alguma desinteria a minha mãe, mais prática, ria-se com a nossa figura e achava que só nos fazia bem, nós os dois, de cócoras, lambíamos os dedos deliciados com os pitéus. Vivências de África.
    Recordar é bom e saudável especialmente quando deixamos de estar envolvidos emocionalmente com as situações.Durante alguns anos sentia-me incomodada em recordar todas estas vivências africanas.Agora não.O tempo tudo resolve e a vida vivida em África, agora, não é mais do que uma história, para ser contada aos filhos e quem sabe um dia, aos netos ( se é que os venho a ter). Uma boa semana para si.

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  3. Olá Maria Paula!
    Por muitas vezes em minhas andanças me deparei com louças e talheres infantis, e devo confessar que sempre me segurei para não adquirí-las pois sei que ao adquirir a primeira, não resistiria em adquirir a segunda, a terceira, ...
    São peças apaixonantes, deliciosas de se colecionar.
    E esse seu prato oitavado! Verdadeiro mimo!
    Merece um espaço de destaque no louceiro!
    Fiquei curioso em saber as medidas...
    Quanto às recordações de infância suas e do Manel, elas me fizeram viajar na imaginação e constatar que mesmo em lugares diferentes do mundo são muito parecidas com as que vivi aqui no Brasil quando ia para Minas Gerais, terra natal de minha mãe.
    Parabéns pela publicação! E ficamos aguardando outras histórias e lembranças!

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    1. Olá C. Deveikis
      A verdade é que a vida naqueles tempos idos devia ser muito idêntica nas terras mais pequenas e afastadas dos grandes centros.Claro que nas terras de clima tropical havia toda aquela panóplia de cuidados a acrescentar.Eu adorava o mosquiteiro e o tecto do meu quarto pintado de branco e com ripas fininhas de madeira colocadas à largura e ao comprimento, formando assim grandes quadrados.Esses quadrados foram o meu primeiro livro branco :)
      É verdade que quando compramos a primeira peça de qualquer coisa é um risco que corremos em ter dificuldade em parar. Eu nunca chego a ter grandes coleções e desta loiça infantil devo ter seis ou sete peças. A maior parte de produção portuguesa. Este pratinho achei-o muito giro e foi muito baratinho :) Mede 16 cm e cada um dos oito lados mede seis. Um bom fim de semana e muito obrigada pela sua presença.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Sempre achei graça a louça infantil. Não que em miúdo tivesse direito a pratos com gatinhos e outros bonecos. Mas tenho o mesmo fascínio por esta louça que tenho pelos brinquedos. Tenho pena de os meus filhos já terem crescido. Se fossem mais pequeno comprava-lhe estas peças. Na altura, quando eram pequenos comprei-lhes algumas coisas com bonecos, mas de plástico, ou de vidro sem grande qualidade. Para comprar de novo esta loiças infantis, terei que esperar ser avô, o que só deve acontecer quando já estiver com os pés para a cova, pois fui pai muito tarde e os nossos filhos só começarão a procriar quando já estiverem a meio caminho dos 40.

    Bjos e obrigado por partilhar este pequeno momento da sua infância, com a fotografia, onde se vê ao longe uma casa portuguesa, nos confins de África.

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    1. Caro Luís
      Cada vez somos avós mais tarde:) Nada a fazer. Enquanto não se mudarem as políticas de apoio à maternidade e paternidade será muito difícil alterar a situação. Enquanto espero vou espreitando as montras de bebé, para me manter atualizada :) De repente pode ser preciso. Quanto às loiças de criança sempre lhes achei piada e quando vejo uma peça engraçada e a bom preço não lhe resisto.Acho que os meus filhos só tiveram aqueles pratos da Chicco e uma ou outra peça de louça oferecida. Mas muito rapidamente passaram a usar os pratos, copos e colheres de casa. Nunca fui muito adepta de utensílios adaptados. As crianças aprendem muito depressa e é bom que se adaptem ao mundo que as rodeia de uma forma natural.

      As casas da Boa- Entrada eram mimosas. Aliás, toda a povoação o era. Muito bem urbanizada, as casas eram iguais duas a duas e iam decrescendo em tamanho conforme o empregado se afastava hierarquicamente das chefias. Isto é verdade. Era uma organização social com resquícios feudais. Mas as casas eram lindíssimas e tipicamente portuguesas.Ainda hoje tenho uma perdição por pérgolas e janelas de guilhotina, elementos comuns a todas as casas de lá.
      Obrigada pela ajuda para pôr o vídeo. Vou agora tentar fazer isso.Bom fim de semana.

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    2. Luís!!!!
      Já consegui!
      Obrigada!
      Beijos

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  6. Maria Paula

    Para colocar vídeos do youtube deve fazer os seguintes passos:

    - no final do vídeo escolher a opção PARTILHAR

    - Escolhe de seguida a opção INCORPORAR e copia o link que ali lhe aparece

    - No seu blog, no momento da edição, escolhe na barra de ferramentas o separador HTML e é nesse formato que cola o link copiado do incorpar. Depois regressa ao modo REDIGIR e salva e já está

    Um abraço e boa sorte

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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