quinta-feira, 16 de junho de 2016

Faiança do Brasil

Sou frequentadora assídua da feira de velharias de Ponte de Lima, para mim, a melhor da região minhota. Vale pela sua localização, a magnífica Avenida dos Plátanos, pela quantidade de feirantes, variedade dos artigos e das peças com qualidade superior às apresentadas nas outras feiras da região.
Avenida dos Plátanos. Foto retirada daqui
Foi aqui que vi, num estaminé de pano no chão, o prato que hoje mostro. Fiquei intrigada e enquanto aguardava pela oportunidade de me abeirar ia especulando sobre a origem do prato, pois não me parecia ser de produção inglesa ou portuguesa, as mais comuns nas nossas feiras. 
Ainda pensei na faiança francesa, mas quando constatei que afinal era brasileiro (obrigada Fábio pelo seu “Porcelana Brasil”) fiquei, como se tivesse achado um tesouro. Nada tinha do Brasil e logo descubro uma peça com esta decoração! Para além do magnífico azul, a caravela de velas enfunadas e o céu tempestuoso dão-lhe um significado muito especial, numa indiscutível alusão aos descobrimentos portugueses.
Este pequeno prato de dezoito centímetros de diâmetro é produção da fábrica de CÉRAMUS de S. Paulo. Achei interessante que durante as leituras que fiz de preparação para este post, ao digitar a palavra “Céramus”, fui direitinha a dois blogues, que sigo e cujos autores muito considero. Falo nem mais nem menos do Porcelana Brasil do Fábio Carvalho e do  Do Tempo do Guaraná de Rolha do C. Deveikis. 

8 comentários:

  1. Olá Maria Paula,
    Como você já sabe, quem me dera ter uma cópia deste prato! Já pude ver que o Deveikis tem 2! E eu me roendo de inveja... hehehe
    A Céramus, diferentemente da grande maioria das fábricas de faiança de São Paulo, teve em sua fundação (1919) um quadro societário majoritariamente português. Quase todas as fábricas de faiança de SP foram criadas por italianos. O único italiano "peso pesado" no início desta fábrica foi Antonio Gadotti, que era dono do terreno e dos prédios onde a fábrica foi instalada. Entretanto, em pouco tempo, ele que originalmente tinha apenas 10% das ações da empresa, logo pulou para mais de 85%.
    Em 1924 já estava à frente da empresa o engenheiro Francisco de Salles Vicente de Azevedo, então com apenas 33 anos, o nome mais associado à Céramus até hoje. Por esta época ele, junto com Belmiro Ribeiro, já eram os maiores acionistas da empresa. Francisco de Salles promovou uma completa reestruturação na fábrica, que foi praticamente toda reconstruída. Depois de alguns anos de grande prejuízo, por conta das obras entre 1923/24, a Revolta Paulista de 1924, e a crise de energia de 1924/25, pelo final da década de 1920 finalmente a fábrica começa a ter uma produção e lucros mais expressivos. Mas como sabemos, logo veio a crise de 1929, com a quebra da bolsa de Nova Iorque. Depois de mais trocas de sócios, problemas financeiros e crises, de 1935 em diante Francisco de Salles V. de Azevedo passou a ser o presidente da Céramus até o final de sua vida, e a empresa conheceu um longo período de grande produtividade e lucros, e também de grande expansão de suas instalações. Um novo declínio só foi acontecer em meados da década de 1950, por conta do aprofundamento da (eterna) crise econômica brasileira, e a fábrica é fechada em dezembro de 1959.
    Pela grande quantidade de peças Céramus facilmente encontradas em nossos dias, se
    acredita que esta fábrica foi uma das maiores de sua época. A linha de produção da fábrica cobria toda a gama de louça de mesa, de cozinha, de toalete e louça infantil, com razoável variedade de modelos, abrangendo desde as peças mais simples, com borda e superfície lisa, sem decoração, ou apenas com relevo moldado, passando por peças com decoração pintada à mão livre ou pintura estilizada executada com estanhola e aerógrafo, até peças mais elaboradas, com douração e uso de transfers e decalques (em sua maioria importados).
    Uma das formas de decoração mais característica desta fábrica são os padrões de influência Art Decó, executados através do uso de estanhola e pincel ou aerógrafo, que
    começaram a ser usados aparentemente no início da década de 1930, e permanecem nas peças com a marca usada de 1938 em diante.

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    1. Meu caro Fábio!
      É sempre muito bom ler suas explicações!
      É um verdadeiro aprendizado e referência para nós que admiramos a louça brasileira!
      Quanto aos dois pratos Céramus que possuo, devo dizer que o dia que eu resolver me desfazer de coisas que possuo, e olha que acredito que isso não está muito longe de acontecer, os pratos serão seus!
      Uma forma de agradecer toda a disponibilidade que você sempre teve quando eu precisei!

      Abraços!

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    2. caro C. Deveikis,
      Não faça isso comigo, pois vai ser difícil não me segurar para torcer que seja o quanto antes! ;)
      brincadeira!
      mas se um dia isso acontecer, os receberei com felicidade e carinho!
      abraços

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  2. Olá caro Fábio
    Muito obrigada pela resenha histórica que aqui fez da Ceramus, sem dúvida, um enriquecimento para o meu post. Foi conturbada a sua história se pensarmos nos seus curtos quarenta anos de existência. O meu prato com a sua decoração aerógrafada talvez se encaixe precisamente no período que de 38 em diante, ou seja, até ao final da laboração da Ceramus. Bjs

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  3. Olá, Maria Paula! Saudações brasileiras!
    Primeiramente, muito obrigado pela citação, e saiba que mesmo não deixando comentários aqui no seu blog, eu estou sempre acompanhando as suas publicações.
    Além de peças lindíssimas, seu texto, suas explicações e comentårios são perfeitos.
    Quanto ao prato, realmente ele é lindo, e nos remete facilmente para a chegada dos primeiros portugueses (como está escrito nos livros de história), em Santa Cruz Cabrália. Cidade próxima a Porto Seguro, sul do estado da Bahia.
    Não me recordo em que momento comprei os dois que possuo.
    Só me lembro que os comprei para servirem de decoração em uma pequena casa que possuo na cidade de Antonina, litoral do estado em que moro, Paraná.
    Eles ficam lindos pendurados na parede junto com alguns peixes feitos em cerâmica que possuo.
    Futuramente publico eles no blog!
    Um grande abraço!

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    1. C.Deveikis seja muito bem vindo.
      Somos donos de uns pratos muito bonitos com a mais valia da alusão à história comum dos nossos países. Para mim este prato tem um significado muito especial por tudo. Pela sua beleza e pelo seu percurso, do qual temos a certeza, de ter atravessado o Atlântico, talvez bem no fundo de alguma mala de porão :) Depois disso quem sabe por onde terá andado até eu o resgatar dum chão de feira.
      Não tem que agradecer a citação que fiz do seu blog. Totalmente merecida! Com ele tenho descoberto e aprendido muito com toda a boa informação que disponibiliza. Por causa dele até já estive para comprar uma pequena taça Carnival glass, mas o preço era proibitivo e com muita pena minha lá ficou.Um forte abraço também para si e obrigada pelas suas palavras e continue a visitar este sitio.

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  4. Fez uma boa pesquisa, complementada pelo nosso amigo Fábio.
    Não me lembro de ter encontrado no nosso mercado peças de cerâmica fabricadas no Brasil, ou então já as vi e não dei conta (vê-se tanta coisa nas nossas feiras).
    Espero que tenha um tempo descansado
    Manel

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  5. Caro Manel
    Também acho que as louças brasileiras são pouco comuns nas nossas feiras, ou então, como diz o Manel, não damos por elas. Peguei neste prato porque a decoração me atraiu e claro virando-o, identifiquei logo a marca. Já a conhecia do blog do Fábio.Esta pesquisa foi fácil :) fui direitinha à fonte. Mas entretanto lembrei-me que a Maria Andrade também já mostrou no seu blog uma peça de origem brasileira.
    Uma boa semana para si

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