terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pratos de faiança com bailarinas

Passado o pico de trabalho eis-me de volta às coisas de que gosto, com dois pratos que me encantam por várias razões, não sabendo eu muito bem, qual a principal. Se o motivo pouco frequente, a dança, ou a própria representação das bailarinas, em que uma (a do primeiro prato) apresenta uma decoração de gosto mais popular.

Este primeiro prato não tem uma semana cá em casa, mas foi o tempo suficiente para encontrar um muito idêntico no MatrizNet, propriedade do Museu da Música e atribuído a Coimbra. Esta referência poderá ser uma ajuda à identificação da origem da minha gaiteira bailarina :)

Foto referida da MatrizNet. Prato atribuído a Coimbra.
Ainda neste prato acho curioso o penteado e a meia-lua entre as mãos que sugere o uso de um lenço na coreografia.
Pormenor do centro do prato. O modelo sugere uma bailarina já matrona.
O segundo prato, mais sóbrio com a sua decoração monocromática, mostra-nos uma bailarina mais elegante e mais airosa do que a anterior. A posição dos braços e das mãos podem levar-nos a crer que está a tocar castanholas. Será?

O stencil, a técnica usada neste prato fez surtir um efeito curioso na bailarina, que faz lembrar um boneco articulado.
Quanto à origem deste último, não consegui encontrar referência alguma. Estão agora os dois, lado a lado, na parede de um compartimento cá de casa, a que pomposamente chamamos escritório.

6 comentários:

  1. Curioso o prato do matriz.net, que apresenta uma figura muito semelhante à que está no seu prato, com a diferença do dito lenço, que existe no seu, mas não no outro.
    E agora vou entrar numa de elocubrações!
    No prato do Museu da Música parece-me que a bailarina está a tocar castanholas, motivo muito pouco apropriado à mentalidade portuguesa de uma certa geração, onde este instrumento musical está mais conotado com a cultura musical espanhola.
    Talvez por isso deverão tê-lo substituído por algo mais neutro, ou, pelo menos, que não nos trouxesse lembranças de "maus ventos nem de maus casamentos", daí talvez o aparecimento desse lenço (?).
    Na educação da minha geração, não obstante tê-la feito nas antigas províncias ultramarinas, como aliás a Maria Paula também, este sentimento anti espanhol era, além de arreigado, mesmo induzido, e levei algum tempo, e alguma dose de bom senso racionalizante, para o ultrapassar.
    Mas é muito curioso este facto.
    Claro que não passa de especulação minha, mas estas especulações sempre nos dão algum prazer.
    Todas as peças, julgo, foram produzidas com a técnica de "stencil", e, tal como é caraterizado no matriz.net, parecem-me ter caraterísticas da louça proveniente de Coimbra, se bem que, louça sem marca, é sempre um adivinhar constante.
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Manel
      Antes de mais peço desculpa pela demora da resposta, ma, há questões profissionais que eu julgava já ultrapassadas e resolvidas, mas que em virtude da visita próxima de uns certos senhores ou senhoras :) não sei muito bem, tiveram que ser revistas:( E o fazer e refazer de trabalhos reconhecidamente inúteis desgasta-me e desnorteia-me.

      Em relação a estes pratos, sempre achei as dançarinas muito pouco portuguesas :) Ora vejamos. O cabelo da dançarina do prato azul é demasiado encarapinhado, não representando o comum da mulher portuguesa. Depois, o traje, também não nos remete para nenhum dos nossos trajes regionais, fazendo lembrar mais uma saia caráter (as saias com que as meninas treinam o ballet) e finalmente a posição das mãos, que fazem lembrar uma tocadora de castanholas. O penteado da bailarina do primeiro prato faz lembrar mais um penteado africano e parece-me, que no nosso folclore o uso de lenços esvoaçantes nas mãos não é muito comum. Daí que dou comigo, volta e meia, a questionar, donde terão sido copiadas estas imagens ou, o que terá inspirado estes pintores. Também estas divagações, não passam de especulação pura:) mas que ocupam a mente de forma saudável, disso não duvido nada:) Sabe que não tenho memória de em Angola haver esse sentimento anti espanhol? Para além do nosso velho conhecido ditado “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”, poderia haver uma ou outra alusão mais ou menos jocosa aos galegos e/ ou às espanholas, mas nada mais do que isso.
      Um abraço

      Eliminar
  2. Maria Paula

    Os pratos são uma graça pelo tema invulgar e pela sua ingenuidade. Há uns tempos vi à venda um destes pratos populares com um comboio e as suas carruagens. O prato deveria ser de meados do século XIX e representava sem dúvida um dos primeiros comboios que apareceram em Portugal. Era uma coisa deliciosa, mas a vendedora sabia que tinha uma raridade na mão e pedia uma pequena fortuna pelo prato e claro lá ficou na banca.


    Bjos

    ResponderEliminar
  3. Caro Luís
    Também me encantei com estes pratos, mas o primeiro que mostro arrebatou o meu coração :) Adoro aquele ar de matrona feiosa e com uns carrapitos que não serão os da tia Aurora :) Parecem-me as tranças dos penteados africanos.Comprei-o baratíssimo na internet e pela primeira vez "sofri" por um prato :) de tal maneira estava barato! Receei que alguém aliciasse o vendedor com uma quantia superior à que ele pedia! Já me aconteceu perder um negócio assim !!
    Bjs

    ResponderEliminar
  4. Olá Maria Paula,
    Chego aqui atrasada, mas não podia deixar de comentar estes seus pratos das dançarinas, que retive na memória logo que os vi a primeira vez, na altura sem tempo para refletir sobre eles e escrever alguma coisa de jeito...
    O que eu acho curioso é que interpreto as figuras ao contrário da M. Paula, isto é, vejo na primeira uma espanhola de cabelo apanhado com peinheta e flores, e na segunda uma dançarina africana. A meia lua da primeira pode ser um lenço ou mantilha que as típicas figuras de espanholas usavam nos ombros.
    Lembro-me que as nossas vizinhas eram muito populares em Portugal na minha infância, muito cobiçadas pelo setor masculino, talvez pela vivacidade e pelo salero! Até me lembro dos ciúmes que a minha mãe tinha durante as férias de verão na Figueira, onde acorriam e ainda acorrem muitos espanhóis... e espanholas. O meu pai nem podia olhar à vontade... lol
    Reforça essa minha convicção o facto de também ter uma espanhola numa travessa oitavada do tipo que se atribui a Coimbra, só o busto, mas cheia de colares e com mantilha.
    A segunda, avaliando pelo penteado em carapinha como a Maria Paula referiu, mas também pela dança que se imagina, dada a posição dos braços e das pernas, penso que representa uma dançarina africana, outra figura que frequentemente preenchia o imaginário dos artesãos. Até a altura da saia me faz pensar assim, já que até há 5 ou 6 décadas não se viam mulheres europeias de saia rodada acima do joelho...
    Imagino que os dois pratos juntos na parede do seu escritório devem fazer um lindo efeito e ajudam a recrear a vista com coisas bonitas... e intrigantes... 
    Beijos

    ResponderEliminar
  5. Olá Maria Andrade
    Aquela dançarina feiosa e mal ataviada não pode ser espanhola! ! :) Falta-lhe o tal salero que a Maria Andrade bem refere. A menos que o nosso artesão tivesse sido um pouco trapalhão!! :) A bailarina do prato da Matriz net, por exemplo, é muito elegante, e dessa, não duvido que seja uma espanhola que ali está representada.
    Quanto à da bailarina do prato azul, é uma boa interpretação, a que faz. A saia poderá muito bem ser uma daquelas saias de ráfia que tão bem acentuam o movimento das ancas nas danças africanas. Vendo bem até parece que a própria pintura da saia sugere um movimento ondulante. A única coisa que destoa nesta interpretação de bailarina africana é a posição dos braços. Não consigo associar esta posição, às danças tradicionais africanas. Continuo a associá-la às castanholas lol!!!!
    Gosto muito de ver os pratos no sítio que lhes arranjei. Acho que ficam bem ali, naquele espaço não muito grande, entre o aro da porta e uma pequena parede.
    Este fim de semana vou ter cá o meu filho :) !!!!! Imagine como estou :)
    Beijinhos e bom fim de semana

    ResponderEliminar