domingo, 16 de março de 2014

É uma casa portuguesa com certeza


Os mais eruditos falarão em arte naïf ou kitsch. Eu falarei em gosto popular carregado de ingenuidade e forte fé católica, ou não fosse esta casa na Afurada, terra de pescadores, que sabem como ninguém, o que é a dureza da vida. 


Quem engendrou este painel consegui juntar dois dos elementos mais conhecidos e apreciados da nossa cultura popular. Os azulejos (este não é o S. José) e as andorinhas com poiso certo na maioria das nossas varandas tradicionais. Quem, da minha geração, não se lembra delas? As mais antigas que se conhecem são criação do Rafael Bordallo Pinheiro, mas rapidamente foram apropriadas pelo nosso artesanato popular, que, como em tantos outros casos, simplificaram o modelo original, difundindo-o e vulgarizando o seu uso.

Para mim é uma casa portuguesa com certeza. E como não podia deixar de ser...




4 comentários:

  1. Maria Paula, estes conjuntos de azulejos, quando os vejo à venda, custam os olhos da cara, mas devo confessar que não gosto deles.
    Seria preferível coisa mais simples, bastaria uma pequena moldura em boa cantaria rústica com uma pequena luminária no interior (como esta que aqui aparece) e ficaria logo com um aspeto diferente, mais vernáculo e interessante.
    Tenho boas memórias destas andorinhas em cerâmica, que tão bonitas eram.
    Deixaram de se ver, porque devem ter deixado de as fabricar.
    No entanto fazem um conjunto lindíssimo, sobretudo se espalhadas de forma aleatória pela parede.
    Que pena tenho que passassem de moda.
    Esta nostalgia de uma época deixa sempre um travo amargo na boca.
    Uma boa semana para si
    Manel

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    1. Olá Manel
      Estes painéis de azulejos também não são da minha preferência. Este chamou a minha atenção pela composição harmoniosa que forma com as andorinhas e, com o não referido, mas também muito tradicional candeeiro de ferro forjado.Na varanda da casa em Angola, havia andorinhas:), uma pérgula e um candeeiro de ferro forjado e vidro martelado que fazia as minhas delícias enquanto criança, pois gostava de abrir a pequena porta que permitia a mudança da lâmpada. Abri e fechei aquela porta vezes sem conta, até ao dia em que apanhei um valente choque elétrico! Ainda hoje não compreendo o fascínio que as portas pequenas exerciam sobre mim. Recordo-me de que na missa, o que realmente me interessava era o momento em que o padre abria a pequeníssima porta do sacrário:) Venha a psicanálise e explique:)
      Voltando à fotografia.Esta composição pertence a uma casa de gosto bem popular,enorme e toda pintada neste verde! Assim, isolado do resto, gosto do conjunto ingénuo e popular. Quanto às andorinhas tenho-as visto por aí, reinventadas, de cores garridas e decoradas à moda dos "Lenços dos namorados".Prefiro as da minha infância, mas tenho duas pequenas andorinhas brancas que me foram oferecidas este Natal, por uma jovem e que me enternecem enormemente. Fazem voar o meu pensamento até ao meu filho mais novo.
      Uma boa semana, também para si

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  2. É bem verdade. Recordo-me das moradias dos anos cinquenta e sessenta decoradas com as andorinhas pretas. Fazia parte de um estilo. Havia também quem as colocasse nas varandas dos apartamentos, criando assim a ilusão que morava numa vivenda.

    São coisas que fazem parte do kitch português, tal como as bonecas sevilhanas e os naperons que se colocavam em cima da TV. Hoje, os ecrans planos deram o golpe de misericórdia num dos últimos locais da casa onde os naperonzinhos eram usados.

    Mas modas estão sempre a mudar e hoje há imensas lojas destinadas aos turistas onde vendem galos de Barcelos de todas as cores e ainda estas andorinhas, que regressaram agora em força, talvez para decorar moradias nos arredores de Londres, Munique, Tóquio ou Paris.

    Bjos

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    1. A juntar a essa panóplia decorativa faltam os azulejos com motivos regionais ou religiosos debruado com um metal rendilhado pintado de preto.Os naperons ,esses, até na parte traseira dos automóveis eram usado, regra geral a servir de poiso a um cão de boca pemanentemente aberta que abanava a cabeça, conforme o movimento do carro :) A série "Conta-me como foi" retratava com muito rigor, entre outras coisas, o gosto decorativo da classe média baixa da década de sessenta. Achei uma série muito interessante do ponto de vista da reconstituição dos valores da década de sessenta/setenta. Ao novo "look" dos nossos ícones podemos também juntar-lhes o Santo António, que agora há nas cores mais berrantes que se possam imaginar. Mas desde que vi uma reprodução em tamanho natural do David do Miguel Angelo pintado em rosa choque e cabel amarelo, fiquei completamente imune a qualquer tipo de reação :)
      bjs e boa semana

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