domingo, 30 de janeiro de 2011

Beiral decorado

Num recente passeio a Viseu, e lembrando-me  deste post do Luís, que despoletou  várias conversas sobre os cuidados que os antigos tinham na concepção dos edifícios,  fui andando de nariz  no ar, não fosse perder a oportunidade de ver alguma bonita, pinha ou taça :) , mas não encontrei nada. Nada do que procurava, mas, qual não foi o meu espanto, quando reparei nestas telhas de beiral (não sei se é este o termo correcto), de um granítico edifício da rua Nunes de Carvalho.


Fiquei surpreendida.Nunca tinha visto tal! Telhas decoradas?!


Terá sido uma opção puramente estética? Ou antes, alguma questão técnica relacionada, por exemplo, com impermeabilização?!

Seja qual for o motivo, achei curioso, e a decoração até é bonitinha.No seu conjunto, assim, as flores todas alinhadas, fazem um efeito bonito, mas.... a verdade é que não haverá muita gente a dar por ela.:)

16 comentários:

  1. belo conjunto esse! me fez lembrar de umas telhas decoradas que há no colégio em que estudei o ginásio (não sei como este período letivo se chama em Portugual; são 4 anos entre o elementar e o secundário):
    http://picasaweb.google.com/lh/photo/h3upEGtD95tzOHjp8IqyMA?feat=directlink
    abraços!

    ResponderEliminar
  2. Que bela ideia teve a Maria Paula!!!

    Esas telhas são um fabrico típico do Norte e é também aí que se encontram em maior número e pelos vistos também no Brasil, mercado preferencial das fiirmas portuguesas.

    Parece que o seu fabrico terá sido introduzido pela Fábrica de Sto. António de Vale da Piedade em meados do século XIX e depois terá sido adaptado por outras fábricas nortenhas, segundo o que li o "Itinerário de Faiança do Porto e Gaia. Lisboa: IPM, 2001"

    Abraços e continue a olhas para os telhados, beirais, cornijas e balaustradas

    ResponderEliminar
  3. Pois, basta olhar para onde não é hábito e surge todo um mundo estranho e inusitado.
    Não sendo absolutamente iguais, tomei conhecimento com umas placas cerâmicas, estas totalmente planas, de finais do século XV, início do XVI, que revestiam o espaço entre as vigas de madeira do tecto de um qualquer espaço habitado, totalmente decoradas pelo lado que dava para o espaço interior da sala, com certeza para dar ilusão de pintura a fresco, técnica dominada na altura por poucos artistas e só habitual em edificações destinadas às classes seculares ou eclesiásticas mais abastadas.
    Encontrei estas placas, denominadas localmente como "socarrats", no Museu de Artes Decorativas de Barcelona, como pertencendo à região de Valência, e, seguramente, seriam uma herança árabe.
    Não conheço a tradução para português deste termo, "socarrats", mas são placas lindíssimas, tão belas que acabei por comprar uma réplica, a qual me acompanha há anos, estando sempre numa das paredes da cozinha ... vá-se lá saber porquê na cozinha, mas é onde a coloco sempre! Talvez pelos tons de azuis e pelo fantástico e minucioso desenho em arabescos que a decora totalmente como num "horror ao vazio".
    Claro que aqui em Portugal também tenho encontrado estas placas cerâmicas, mais recentes, claro, e igualmente a substituir o espaço entre as traves de madeira de edifícios do Alentejo, e, quando andei em busca de uma casa nesta região tive muitas vezes a hipótese de as ver a cobrir as salas ... dá-lhes um ar de frescura e, como nunca as vi pintadas (porque eram todas casas menos abastadas, no entanto é de supor que nas mais ricas talvez se apresentassem decoradas, não tenho a certeza, pois nunca as vi como tal), o vermelho do barro cozido fazia um contraste espantoso com o escuro das madeiras antigas!
    Quanto às telhas que apresenta tive ocasião de as ver várias vezes pelo Norte, e, mais recentemente, em fotografias de edificações antigas no Rio de Janeiro que foram amavelmente disponibilizadas pelo Fábio, e que tiveram o condão de me ensimesmar pelo aspecto surpreendente que se obtém.
    Uma boa semana de trabalho
    Manel

    ResponderEliminar
  4. Olá Manel,

    fiquei curioso em ver imagens dos socarrats, então usei meu amigo Google, através do qual vi várias imagens, bem como explicações do que são. Achei uma breve explicação para o termo, que transcrevo a seguir, no original:

    "La palabra socarrat (...) quiere decir en valenciano, CHAMUSCADO y hace referencia a que esta cocido al ladrillo sólo una vez."

    O curioso é que o termo também é usado para denominar as bordas queimadas de alimentos cozidos no forno, em particular, as pallejas!

    Quanto às telhas, pinhas & cia aqui no Brasil, há algumas fábricas de cerâmica artística, fundadas por artesãos vindos de Alcobaça, que ainda as fabricam.

    Cerâmica Luiz Salvador:

    http://www.ceramicaluizsalvador.com.br/Imagens%20amostras/misc_05_G.jpg

    http://www.ceramicaluizsalvador.com.br/Imagens%20amostras/misc_04_G.jpg

    http://www.ceramicaluizsalvador.com.br/imagens/Loja%20ipanema.jpg


    Cerâmica Lusobrasil:

    http://www.ceramicalusobrasil.com.br/imagens/08.jpg


    abraços!
    Fábio

    ResponderEliminar
  5. Património invisível ao comum dos mortais...

    ResponderEliminar
  6. Caro Fábio
    Que pena! Não consigo aceder ao álbum do Picasa e bem gostava de ver mais destas telhas, assim decoradas.São raras!

    O ginásio,deve corresponder ao ensino básico português,que tem a duração de 9 anos e está dividido em 3 ciclos;o 1º, (o antigo ensino primário),tem a duração de quatro anos,o 2º ciclo,dois e o 3º,três anos.Depois,tal como aí, o secundário.
    Obrigada pelos links do seu último comentário.
    Um abraço
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  7. Oi Maria Paula,

    fiz um post temporário em meu blog, para que você possa ver a foto da telha com corujas de meu colégio

    http://porcelanabrasil.blogspot.com/2001/01/blog-post.html

    Sim, o ginásio é exatamente o segundo ciclo do ensino básico atualmente (4 anos).

    bjos!

    ResponderEliminar
  8. Olá Maria Paula,
    Já aqui fiz um comentário q perdi. Não sei porquê isto anda a acontecer-me muitas vezes e depois, como escrevo muito, fico frustradíssima e não me apetece repetir a dose, mas sempre vou dizer alguma coisa.
    Ainda bem q a M. Paula andou a olhar pra o topo dos prédios em Viseu. Eu também tenho dado por mim a fazer o mesmo, graças ao repto lançado pelo Luís, o pior é q nem sempre trago máquina fotográfica. Ainda há dias vi um beiral destes num prédio muito degradado da Rua da Sofia em Coimbra, mas não tinha lá a máquina, fica para a próxima. Às vezes estas telhas aparecem à venda em antiquários e até as vi à venda no Rio de Janeiro. A vantagem de estarem nesta posição nos beirais é q não estão sujeitas a tanto desgaste e à sujidade como os outros ornamentos mais expostos na beira dos telhados, só é pena todos eles serem tão pouco visíveis porq são peças magníficas.
    Abraços

    ResponderEliminar
  9. Caro Luís
    Desconhecia por completo a existência deste tipo de telhas e muito menos que eram um fabrico próprio daqui do norte.
    Significativa, a preocupação com estes pormenores!Eram tempos em que a pressa não imperava.
    Um abraço
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  10. Caro Manel
    É bem verdade, que se experimentarmos olhar em direcções diferentes das das habituais, muita coisa iremos descobrir...
    Nunca me passou pela cabeça que existissem pormenores, neste caso de construção, ricamente decorados, sendo mínimas, as chances de serem apreciadas por alguém. Viu as telhas do colégio, que o Fábio frequentou? Maravilhosas e não sei porquê, acho que a escolha daquelas aves (nunca sei se são mochos ou corujas), têm alguma simbologia.
    Quanto aos "socarrats", não sabia da sua existência e, vá-se lá saber porquê, não me espanto do seu uso em terras de Espanha; acho que os espanhóis, são muito mais dados aos enfeites do que nós portugueses, daí, admirar-me pelo seu uso aqui em Portugal, especialmente no Alentejo, região à qual, associo somente a cal e o debruado das casas a azul ou amarelo. Opinião de leiga... :)
    Continuação de boa semana e obrigada pela sua presença.
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  11. Olá Maria Paula,

    As corujas representam sabedoria e são muito usadas como símbolos de instituições de ensino.

    Acho que por esta razão que elas estão nas telhas que ornamentam o balcão nobre, que dá para o pátio interno do colégio.

    abraços!
    Fábio

    ResponderEliminar
  12. Olá Fábio:)
    Tem toda a razão!!
    Até nas histórias infantis, a coruja é sempre representada como o animal sabichão....:)
    Abraços para si
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  13. Olá Rafael Carvalho!
    Basta um bocadinho de tempo livre,olhar noutras direcções, e por vezes conseguimos descobrir coisas, que nunca sonhámos existirem.
    Obrigada pela visita.
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  14. Olá Maria Andrade
    Diz-me a experiência que os comentários desaparecem, quando demoramos um bocado mais entre a escrita e a postagem. Para evitar isso, quando pressinto que estou a demorar mais do que o aceitável pela "máquina", copio ou corto o texto e assim salvo o comentário, pois se ele desaparecer, só terei o trabalho de o colar. :)

    Que pena não ter levado a sua máquina! Quando tiver oportunidade de voltar a Coimbra, por favor fotografe as telhas, e claro, mostre-nos:)
    São pouco conhecidas, talvez, porque serem pouco visíveis. E pelo que temos visto, há-as bem bonitas.
    Um abraço
    Maria Paula

    ResponderEliminar
  15. É verdade, esta ave de rapina nocturna era um dos atributos da deusa Atena, considerada a deusa grega conotada com a sabedoria, não tendo nascido de qualquer relação carnal, mas surgido da cabeça de Zeus, fruto do pensamento deste.
    Por isso, esta ave surge associada a muitos estabelecimentos de ensino, como, neste caso, o frequentado pelo Fábio, e cujas telhas formam um padrão muito atraente e coerente
    Manel

    ResponderEliminar
  16. Obrigada Manel, pelo comentário, que como sempre é oportuno e esclarecedor.
    Como não me consegui lembrar disso antes! Logo eu, que todos os dias vejo ilustrações infantis, onde aparece a coruja com os óculos na ponta do nariz (leia-se bico) e o ponteiro na mão.
    A idade não perdoa!!
    Um abraço
    Maria Paula

    ResponderEliminar