quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Coisas diferente que vou vendo por aí - II


Fotografia tirada em Milão durante as poucas horas que lá estive, mas, as suficientes para ter aberto a boca de espanto perante a monumentalidade da sua Stazione Centrale ou da sua catedral com os seus 157 metros de altura e construída com mármore de Candoglia. E foi precisamente aqui na Duomo de Milão que vi num dos seus lados, este enorme cartaz fazendo publicidade a uns sensualíssimos sapatos de mulher! Insólito e contraditório para uma igreja que não permite a entrada nos seus templos, de nenhuma mulher com ombros destapados ou saias demasiadamente curtas. Mas, com um restauro para pagar de vinte milhões de euros, não será de espantar que os responsáveis pela magnífica catedral não se possam preocupar com coerências, mas, antes sim, em arranjar soluções para fazer face a tais despesas, mesmo que isso passe por vender espaços seus, que, quanto a mim se querem recatados e afastados de questões mundanas. Não sei porquê, lembrei-me do episódio bíblico dos “Vendilhões do Templo” Porque será?
Milão 2012
  
Não se fica indiferente a esta enorme escultura de aço inoxidável com oito metros de altura e, um e trinta de largura. Está colocada no lago Genebra, em Vevey,  mesmo em frente ao "Alimentarium", o Museu da Alimentação, fundado em 1985 pela Nestlé.  Foi aqui colocada em 1995, só pelo período de um ano,  para comemorar o décimo aniversário do  "Alimentarium". Ao fim deste tempo e contra a vontade do museu  e da própria cidade de Vevey a escultura é retirada  e enviada para  o cantão de Lucerna onde fica a embelezar o jardim de uma fábrica de cutelarias. Em dois mil e sete regressa a Vevey para integrar uma exposição temporária e, é nessa altura, que um movimento de cidadãos liderado pela própria Câmara local reivindica a permanência da escultura  na cidade. Em dois mil e oito, as autoridades do cantão decretam que o “garfo” regresse ao seu lugar originário, o lago Genebra.
Vevey - 2011

6 comentários:

  1. Só agora aqui vim, porque andei com o teclado do pc avariado e só consegui actualizar o blog usando computadores de outras pessoas ou num intervalo do emprego.

    As fotografias são magníficas, contraditórias, surpreendendo os contrastes do mundo moderno. No primeiro, a religião choca com o cartaz publicitário e há uma pomba que atravessa a imagem, como que representando a inocência que foge. A segunda imagem também mostra um garfo inusitadamente espetado num lago suiço, que só nos recorda do sapato feito com tampas de panelas da Joana de Vasconcelos.

    gostei muito

    Bjos

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    1. É assim Luís. Avaria-se-nos o computador e ficamos com a vida completamente transtornada. Estamos irremediavelmente dependentes desta máquina:) Por exemplo, por vezes dou comigo a pensar, que já não me lembro da última vez que entrei num banco!!
      Aquele cartaz na catedral é uma ideia completamente absurda. Não o digo por puritanismo, mas pela total falta de congruência! Acredito realmente que só questões relacionadas com o dinheiro do aluguer daquele espaço explicam o insólito. Quanto ao garfo, surpreende mas percebe-se, pois está muito próximo do Museu da Alimentação. Beijos e boa semana

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  2. A imagem da catedral de Milão fez-me lembrar (a Maria Paula tem este condão, o de me trazer à memória acontecimentos passados, que, na altura me marcaram muito) uma das minhas passagens por aquela cidade numa Páscoa fria, onde se realizava uma procissão no próprio recinto interior do edifício, tal a grandiosidade dele!
    Levou praticamente seis séculos a atingir o seu apogeu, mas, e por vicissitudes várias, continuará em obras por um período ainda indeterminado.
    Foi uma Páscoa algo manchada por acontecimentos pouco felizes, mas a que a vista deste espetáculo, num dos mais emblemáticos edifícios da cristandade, e da religiosidade implícita que move multidões, me levaram a reconsiderar e repensar melhor a minha vida, e até a tomar decisões.
    Sempre que pude, regressei a Milão, pois sou um admirador incondicional duma das igrejas que mais me fascina em Itália - a de S. Ambrósio - e olhe que dizer esta frase relativamente a monumentos artísticos religiosos em Itália, é um verdadeiro perigo e uma barbaridade, mas não consigo despegar-me deste edifício construído num românico ainda incipiente e cheio de influêcias anteriores.
    Quanto ao garfo, e usando de alguma da sinceridade que me caracteriza, e peço desculpa pelo arrojo, colocá-lo-ia algures no fundo da fossa das Marianas, que, creio, é o ponto mais fundo à superfície da Terra! Pode ser que, se algum ser ali vive, tenha a sorte de não necessitar de olhos para ver esta monstruosidade! Mas há tantas, e tão espalhadas por esse mundo fora, que, se puder evitá-las, fá-lo-ei com todo o gosto.
    Estar sentado num daqueles bancos, frente a um lago que me parece tão bonito quanto sereno e encantador, e ter aquele estrupício na frente ... valha-me Santo Abrósio!
    Manel

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    1. Antes de mais desculpe a resposta atrasada depois, deixe-me dizer-lhe, que me fez arrancar uma gargalhada - e isto não é muito comum em mim- com a história de pôr o "meu" garfo no fundo das Marianas :)Aprecio a maneira como o Manel mostra o seu desacordo e diz que não gosta :)Quanto ao garfo ele é assim mesmo, enorme,parecendo querer desafiar as diferentes sensibilidades.Quanto a mim,acho que a proximidade do Museu da Alimentação o justifica.

      Achei interessante o que conta sobre a sua experiência na catedral. Os templos religiosos convidam à introspeção e sermos ou não praticante, termos ou não termos fé,não são condições determinantes para a quase necessidade que sentimos de uma recolha espiritual quando entramos numa igreja,especialmente se isso acontecer, em horário fora do culto.
      Lamento tê-lo feito recordar coisas menos agradáveis, mas como a capacidade do ser humano em regenerar dores e mágoas é grande,espero que esses acontecimentos, hoje, não passem disso mesmo.


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  3. Olá Maria Paula,
    Ao ver as suas belas fotografias, qualquer delas surpreendente pelo contraste entre objetos e local, não posso deixar de me lembrar das minhas próprias viagens a estes sítios, só que hesito sempre em vir para aqui falar das minhas experiências pessoais. Mas afinal é também disso que vivem os nossos blogues, da partilha de gostos e experiências, como se estivessemos em conversa de café com amigos :)
    Em relação a Milão, a única vez em que lá estive, há uns 4 anos, já nós estávamos aqui em plena luta de profs e fui encontrar na praça da Catedral uma manifestação de professores com os mesmos problemas, pelo menos exibiam grandes cartazes em defesa da "escuola publica".
    Quanto ao garfo espetado no lago, embora faça uma foto original pelo inusitado, também, como o Manel, preferia que não estivesse ali a poluir a paisagem. Quando passei por aquelas paragens, não sei se exatamente por este local, ainda não havia garfo à vista e não fez falta nenhuma... ;)
    Beijos

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  4. Olá Maria Andrade
    Reconheço que é difícil escrevermos sobre as coisas de que gostamos sem apelarmos às nossas experiências pessoais correndo desta forma, o risco de nos expormos demasiado, ou até, de algumas vezes cairmos no ridículo. Em alguns posts também hesito sobre fotos e temas a publicar, escrevo e reescrevo os meus modestos textos quando desconfio de que me poderei estar a exceder e, nessas situações apelo ao meu bom senso, ou seja, auto censuro-me :) Mas, admito que é difícil manter um tom distante ou formal, quando partilhamos gostos e afinidades com pessoas, que mesmo sem conhecermos pessoalmente muito estimamos.
    Sobre Milão tenho bastante pena de não a ter ficado a conhecer melhor. Mas outras oportunidade surgirão.
    Quanto ao "meu" mal amado garfo :) e pensando na proximidade do Alimentarium, acho-o bem integrado, e aceitável, enquanto peça representativa de um certo tipo de arte.
    Beijos para si e boa semana.

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