domingo, 30 de novembro de 2014

Jarro de água da Baccarat



Os vidros  são um assunto pouco abordado por este grupo de amantes de antiguidade e velharias que aqui se juntam na blogosfera, partilhando os seus achados. Apesar de eu só ter dedicado dois posts a este tema, não significa que goste menos destes objetos do que das porcelanas ou faianças. Então porquê este desequilíbrio? Creio que a principal causa é o meu desconhecimento sobre este assunto e portanto vou evitando a sua compra, não vá comprar gato por lebre. A segunda questão prende-se com o facto de as minhas compras serem feitas essencialmente pela internet e por este meio, só tenho  como referência a fotografia, o que para mim é pouco e  não basta para avaliar a peça.


Mas há uns largos  meses e talvez influenciada  por este blog, comprei este jarro de água . Bem, a marca também foi  determinante:) Afinal sempre é um Baccarat!  

A marca é mítica e sinónimo de luxo e glamour desde 1764. Comemoraram-se no mês passado, os seus duzentos e cinquenta anos de existência, com uma exposição retrospetiva no Petit Palais, em Paris, onde se exibem, até janeiro de 2015, cerca de duzentos e cinquenta das mais prestigiadas peças  Baccarat.

Este pesado jarro, a passar dos dois quilos apresenta a marca normalmente atribuída ao período entre 1930 e 1940, mas como em muitos outros casos, também aqui  as opiniões se dividem. Provado é  que a marca foi registada em 1860 em Paris, e que nesta data,  todas as peças eram marcadas com uma etiqueta em papel,  igual à que se vê na imagem abaixo. Em 1936, esta marca  em papel é substituída pela gravação do mesmo logótipo, na própria peça.


Imagem retirada da net
 Quanto ao resto, sabe-se que a Baccarat nasceu em consequência de uma grave  crise económica  provocada pelo encerramento das salinas (propriedade do bispado de Metz) existentes na região de Lorraine, o que levou o bispo  a desenvolver uma nova industria, na tentativa de minorar os efeitos daquele encerramento. A escolha do vidro prendeu-se com o facto de naquela região haver já uma manufactura  vidreira. Em outubro de 1764 Luís XV autoriza a criação da nova industria que se instalará em Baccarat. Esta opção está intimamente  relacionada com o conjunto das  matérias-primas  e outros recursos  existentes na região e indispensáveis à produção do vidro. Outro fator determinante foi o facto de Baccarat ser banhada pelo rio rio Meurthe, por onde era transportada por flutuação, a madeira necessária à alimentação dos fornos.  

Este jarro utilitário, apesar de aparentado na forma, com o célebre serviço Harcourt criado em 1841, não pertence à categoria dos objetos luxuosos que deram nome internacional à Maison Baccarat, nem tão pouco emite aquele som de corda de violino, tão caraterístico das finas peças de cristal. Mas o robusto restauro a que foi sujeito, confere-lhe uma graça especial. A enorme rachadela que vai da base até ao inicio da asa, está perfeitamente selada por estas tiras de uma liga que não consigo identificar e que alguém já sugeriu poder tratar-se de  prata, mas eu, não creio que seja. 

Consegui finalmente acabar este post! Com o meu pai já em casa, sabemos que o pior passou e finalmente, toda a família vai regressando às suas rotinas.
Fonte - Baccarat

7 comentários:

  1. Fico mais tranquilo por saber que a saúde do seu pai está a ter desenvolvimentos mais felizes, pelo que continuo a desejar que continue e que rapidamente volte a sua rotina tradicional.
    Só nestas alturas damos valor ás rotinas, pois elas significam condições de saúde normais.

    Quanto ao seu texto achei-o muito curioso, pois concluí que temos mais ou menos a mesma opinião sobre peças deste material.
    Fico sempre desasado quando se trata de vidros/cristais, pois conheço tão pouco que temo pagar lebre por gato e encher a casa de lixo, como acontece ver em alguns blogs onde as pessoas apresentam vidros que julgam ser a a "jóia da coroa" e não passam de vulgaríssimas e banais peças que vemos à venda em qualquer feira ...
    Assim, acabo por me reconhecer nas suas palavras.
    Os vidros que adquiro são sempre adquiridos a medo, ou porque se me tornaram apelativos por qualquer razão, ou porque necessito mesmo, mas raro confio no que me dizem, a não ser que devidamente marcados como esta sua peça.
    Aqui, esta sua peça é bem fundamentada, marcada, e dotada de uma beleza intemporal.
    É realmente bonita na sua imponência e pureza de linha, e confesso que gosto muito do arranjo que lhe fizeram, faz-me lembrar aquele blog do "Past Imperfect" (http://andrewbaseman.com/blog/), que julgo que me foi dado a conhecer por si, neste seu espaço, se não estou em erro.
    Os parabéns por esta sua peça que é verdadeiramente original e interessante.
    Uma boa semana e continuação das melhoras do seu pai
    Manel

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  2. Já agora, em jeito de curiosidade, o pequeno filme que aqui apresenta trouxe-me à memória um momento hilariante que eu e o Luís vivemos há alguns anos atrás.
    Quando, após eu ter feito através da net uma venda de cerca de uma dúzia de peças de escultura em madeira a um casal do Porto, calhou que eu e o Luís fizéssemos essa entrega em mão na casa desse casal.
    Tratava-se dum andar de Vila Nova de Gaia, daqueles tristes e banais, ainda que com uma bonita vista sobre o Porto, mas tratava-se duma construção moderna, e com um pé direito ainda mais baixo do que o normal, pois não deveria ter mais de 2,40m.
    A dona, uma senhora que não conseguia enxergar o tipo de casa em que estava enfiada, informou-nos de forma orgulhosa e ufana que estava à espera que lhe entregassem (estava a mobilar a casa) um LUSTRE (frisou bem o termo) em cristal de Baccarat para colocar na sala ...
    O Luís e eu, trocámos olhares meio espantados e logo pensámos com os nossos botões que das duas uma, ou o tal lustre não passava de um modestíssimo candeeiro rente ao teto, ou então todos naquela casa teriam de andar cuidadosamente em torno do lustre como se de árvore de Natal se tratasse - ainda por cima a divisão era estreita e acanhada!
    Claro que nos serviu de motivo de gáudio durante muito tempo.
    Desculpe este interlúdio, mas o filme que aqui deixou trouxe-me à memória aquele momento que nos serviu de motivo de riso durante muito tempo
    Manel

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  3. Caro Manel
    Com esta história do lustre de Vila Nova de Gaia conseguiu arrancar-me uma sonora gargalhada, que com pena minha, não me é muito habitual, fazendo-me ao mesmo tempo recordar uma história passada comigo e com o meu pai. Era eu uma jovem adolescente quando um namorado com o qual o meu pai não simpatizava, me ofereceu um enorme urso em peluche. Feliz, entrei com ele em casa e para meu espanto diz o meu pai "Tal bicho não cabe cá em casa. Ponha-o na casota do cão".Passados os amuos e com o meu pai meio arrependido com a graça,o urso acabou por andar de maço para cabaço e já não sei muito bem qual foi o seu último pouso. Talvez a lavandaria, que à boa maneira daquelas construções africanas eram um anexo exterior à casa. Mas o que as duas histórias ilustram muito bem é como a falta de sensatez pode desarmonizar um ambiente ou ridicularizar um gesto romântico :)

    Confesso que este jarro, muito barato, foi comprado por total influência do blog que refere e claro da marca.Aliás aquele blog fez-me descobrir o encanto das peças restauradas desta forma. Mas para além da questão estética, surpreende-me a eficiência destes arranjos. Esta caneca não verte pinga de água!
    Agradeço-lhe os votos de saúde para o meu pai que vai apresentando algumas melhoras, apesar da grande debilidade física.
    Continuação de uma boa semana que, aqui pelo norte continua radiante.

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  4. Olá Maria Paula
    Gostei muito do seu jarro Baccarat, mas também da boa companhia em que o fotografou, os belos pratos ingleses, pelo menos um da Herculaneum!!!
    Estes nomes míticos dos vidros e cristais, sobretudo franceses, também sempre me fizeram soar campainhas :) . Não tenho nada Baccarat, mas tenho uma pequena peça Emile Gallé, embora também com defeito. Do nome Lalique lá arranjei uns frasquinhos de perfume, industriais, claro, enfim para ter o gosto da associação à marca...
    E depois também me deixo encantar pela “art of inventive repair” tão bem divulgada pelo Andrew Baseman e penso que também foi através da Maria Paula que lá cheguei. Acabamos por nos influenciar todos mutuamente.
    Fartei-me de rir com as histórias das coisas que cabem ou não cabem em determinadas casas.
    Por essas e por outras ;) sempre tive tendência a comprar pequeno...
    Obrigada pela partilha das imagens e da pesquisa e parabéns pela compra!
    Beijinhos

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  5. Olá Maria Andrade
    Logo vi que não ia deixar passar despercebidas as travessas :) e tem toda a razão,porque o meu "jarrão" de água deixa ver a travessa Herculaneum que já aqui mostrei e uma outra, muito mais pequena, marcada Roger.Já fiz alguma pesquisa sobre esta marca e se fiz bem as traduções, a fábrica em questão foi criada pela sociedade John & George Rogers em 1784 e laborou até 1842. O motivo é muito engraçado, mostra uma paisagem rural com dois animais que eu pensava serem veados e que vim a descobrir serem gamos. Nunca tinha ouvido falar em tal animal!

    Os vidros são muitas vezes uma tentação, mas contenho-me pelos motivos que já referi, mas a este jarro marcado não resisti. Gostei do ar robusto e do restauro e claro, também fui influenciada pelo "inventive repair".
    Quanto a vidros nada mais tenho a não ser pirexes :) Brinco. Tenho uns cálice comprados à minha amiga D. Maria Isabel, da Casa de Assade, que esses, apesar de não estarem marcados,fazem aquele tlim que não deixam dúvidas de que se trata de cristal. Quanto aos nomes que refere da vidraria, bem que os cobiço, mas não tenho nenhum.
    A escolha de qualquer objeto para presentear alguém requer sempre muito tato:) tacto fica melhor:). Mas acho que com bom senso, se acaba por fazer a escolha acertada.
    Beijinhos e obrigada pela sua presença que tanto aprecio

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  6. Maria Paula

    Eu também gosto de vidros e tenho uma ou outra coisa herdada, nada de especial, uns copos soltos, mas nunca os fotografei ou publiquei no blogue, porque não estão marcados e nem há muita bibliografia sobre vidros. Presumo que sejam portugueses, mas não sei mais nada sobre eles. Há uns tempos passaram-me uns livros sobre a indústria do vidro em Portugal. Terei que os ver com mais atenção para ver se consigo identificar algum dos cacos que andam lá por casa.

    Gostei do seu Baccarat, muito ao jeito das peças do Andrew Baseman, que nos fez a todos olhar os bules de chá com restauros e acrescentos com outro olhar muito mais apreciador. O cenário dos pratos ingleses ficou a matar.

    Bjos

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  7. Caro Luís
    Imerecida a minha tardia a minha resposta, mas sei que me desculpa:) Tudo continua um bocado caótico. Os vidros dão objetos de grande beleza, só que, como raramente estão marcados, não invisto muito na sua compra. Mas há peças irresistíveis e este grande jarro foi uma delas. Como sempre associei a marca Baccarat a frágeis cristais este jarro surpreendeu-me pela robustez. Creio até, que será mais de vidro comum pois, nitidamente, pertence a uma linha utilitária. Mas não deixa de ser uma peça curiosa, a que o restauro de bom gosto lhe dá um toque especial:) Concordo consigo. O blogue do Andrew Baseman fez-nos olhar de outra forma para as peças restauradas e até já comprei algumas peças nitidamente influenciada pela sua coleção.
    O vidro é muito difícil de fotografar. Capta todos os reflexos e imagens. Dei dúzias de voltas com o jarro pela casa, mas não resolvia o problema. Lembrei-me então de fintar as leis da ótica e criar um cenário que esbatesse os reflexos. Daí aparecerem as travessas :) mas quando vi o resultado, percebi que não iriam passar despercebidas a certos olhos:).
    Beijos

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