Creio que foi já no ano passado, que uma caminhada através do Caminho de Jacinto nos levou, até à Quinta de Vila Nova, em Baião, agora designada por Casa de Tormes, vulgo casa de Eça de Queirós e que apesar de ele nunca a ter habitado, a imortalizou no seu romance "A Cidade e as Serras". O conjunto formado pela casa, capela e jardins é bonito, mas não gostei da fachada, achei-a demasiado rude e austera. As duas escadarias paralelas uma à outra também não primam pela elegância.
A fotografia que se segue é de uma das janelas da capela, que achei encantadora, mesmo sabendo que o seu recheio, pouco ou nenhuma relação terá com a casa que o escritor conheceu.
A última, e de todas que mostro, é a que mais me cativa. É o resultado das brincadeiras de um grupo de crianças, que, não cumprindo as regras da sala, não arrumou os jogos quando chegou a hora do recreio deixando os bonecos assim colocados no parapeito da janela, por trás de uma tela. Estava um dia de sol aberto e as sombras projetadas em contraluz provocaram este efeito muito giro. Sentei-me a apreciar o resultado engraçado, e dei comigo a conseguir ver o Major Alvega, Corto Maltese e até mesmo o Tintim, numa qualquer aventura africana :) Quando as crianças entraram novamente na sala, chamei a sua atenção para o efeito provocado. Acharam muito piada e claro que durante uma temporada, as experiências sucederam-se com os mais variados materiais. Eu aproveitei o seu entusiasmo, para explorar com eles, algumas noções básicas e adequadas à sua idade, sobre os efeitos de luz e sombra. Acredito que todas as matérias são passíveis de serem explicadas às crianças, desde que as adequemos ao desenvolvimento cognitivo de cada uma (Bruner).
Olá Maria Paula. Fantástico post. Também gosto muito de fotografar janelas abertas, sentir as transparências que se avistam através delas.Claro que não tenho o seu jeito, apenas o mesmo gosto. Segui a sua caminhada - acredito que teria fotografado as mesmas que aqui posta - sinto uma afinidade brutal em muitos tópicos que mostra - chega a extremos - singelo,artístico e educacional que tão maravilhosamente aqui deixa um recado para outros profissionais adaptarem nas suas tarefas de ensinar bem, abrindo horizontes para o futuro - assim se desenvolvem gerações mais atentas, responsáveis e com sabedoria - o que eu gostaria de voltar a ser criança, ter assim uma Educadora - chegaria longe - acredito...tive toda a vida maus professores, outros tempos, mas também gente que não estava na profissão certa. Aprendi aos trambolhões.
ResponderEliminarDesculpe as minhas divagações.
Continue...
Os seus posts são sempre de uma eloquência fabulosa.
Beijos
Isabel
Olá Maria Isabel
EliminarMuito obrigada pelas suas simpáticas palavras que de tal maneira generosas até me deixam um bocado atrapalhada. Uma das coisas que não me permito abdicar, é o entusiasmo no meu trabalho, que reconheço é deveras gratificante. Gosto de chegar a julho, olhar para trás e verificar a evolução das minhas crianças. Alguns, os mais novos, quando chegam ao jardim de infância, mal se conseguem fazer perceber, e são muito dependentes do adulto. Gostava que os ouvisse e visse em julho, quando acaba a escola :)
Não lamente ter sido criança noutra época. Certas crianças hoje, apesar de terem muitos bens materiais, têm uma vida dura. Por volta das sete horas já estão na escola e, muitas delas, continuam lá até às dezanove!
Beijos e bom fim de semana
Olá Maria Paula,
ResponderEliminarJá há dias que ando para vir comentar estas suas fotos magníficas, mas como não tenho podido estar muito tempo na internet, fui adiando, até hoje.
Acho aquele retângulo de folhas em várias tonalidades, na moldura escura da janela, uma imagem linda e ainda por cima conseguida num sítio tão carismático.
A segunda, apesar de tirada num local que me é sobejamente conhecido - o Palace Hotel do Buçaco avista-se de quase toda a Bairrada - apanhou uma sobreposição de planos com aqueles rendilhados da pedra simplesmente fantástico!
E a terceira foi uma bela surpresa saber como foi obtida, a partir de brincadeiras de crianças...
A Maria Paula tem mesmo um dom especial para a fotografia, cada vez mais isso se confirma!
Beijos
Olá Maria Andrade
EliminarObrigada pelas suas simpáticas palavras, são um incentivo. A primeira fotografia não surtiu bem o resultado que eu esperava. Ficou um contraste demasiado forte, mas também, não sei muito bem como se resolvem estas questões técnicas. Bem regulo a máquina, mas está visto que não chega :) e só inspiração não basta :)
A propósito dos trabalhos das crianças, tenho alguns pequeníssimos filmes, feitos no JI, sobre as suas mãos a fazerem pequenas tarefas que, quanto a mim são muito interessantes pois mostram-nos a nós, adultos, como certas tarefas tão elementares, são tão difíceis para elas e é na dificuldade da situação e no ser capaz de a resolver, que reside a verdadeira aprendizagem das crianças pequenas.
Beijos
Mais uma vez venho aqui confimar os seus talentos fotográficos.
ResponderEliminarA última imagem parece saída de um filme de Lotte Reiniger, uma senhora alemã, que se dedicou a fazer cinema de animação com silhuetas, as pequenas figuras pretas, recortadas à tesoura.
Bjos
Olá Luís
EliminarDesculpe a demora da resposta sei que é um pouco habitual em mim, mas desta vez ultrapassei as marcas :)
Obrigada pelas suas palavras sempre tão gentis. Não conhecia Lotte Reiniger, mas entretanto já fui pesquisar sobre ela e o seu trabalho é fabuloso. Nos jardins-de-infância era frequente fazermos o chamado teatro de sombras, coisa que os miúdos adoravam. Infelizmente foi caindo em desuso, pois, mesmo utilizando recortes muito básicos em cartolina preta, um lençol muito esticadinho a fazer de ecrã e um candeeiro para projetar as sombras, dava um grande trabalhão. As novas tecnologias encarregaram-se do resto:) Acho que as minhas crianças saíram a ganhar do seu comentário, pois sei que ainda existem na arrecadação do JI, velhos teatros de sombras, irei repescá-los e tentar projetá-los, aproveitando a mesma janela da fotografia, que com dias de sol aberto é um autêntico ecrã iluminado.
Beijos e boa semana
o trabalho da Lotte Reiniger é fascinante e julgo que será uma inspiração para quem trabalha com crianças. O preto e o branco da sua obra continua a fascinar, tal como o Casa Blanca com a Ingrid Bergman e o Bogart, ou as fotografias de Henry Cartier Bresson.
ResponderEliminarBeijos
Caro Luís
EliminarTenho recorrido ao Youtube, para melhor me inteirar da obra da Lotte Reiniger. Mesmo estando em férias já selecionei alguns filmes, para os mostrar às minhas crianças. A Cinderela está fantástica!
É verdade que nesta sociedade de estímulos constantes e até certo ponto agressivos, desvalorizamos os trabalhos a preto e branco.Sabe que tenho colegas que não dão às crianças tinta preta para elas utilizarem livremente nas suas pinturas? Também eu, há já muitos anos, tive este preconceito, mas felizmente corrigi-me.
Beijos e bom fim de semana que está quase aí