Estavam assim, enfileiradas, cerradas, como que a proteger a
privacidade dos seus moradores da indiscrição das máquinas fotográficas
dos turistas que, em agosto enxameiam qualquer avenida ou viela de Roma. Eu,
quietinha, lá em baixo, completamente "espapaçada" pelo calor e
sentada na borda de uma refrescante fonte, agradecia a brincadeira da
petizada que, indiferente ao que as rodeava, salpicavam-se alegre e
generosamente, a eles, e a quem por ali andava.
Não muito longe da viela onde tirei a foto de cima, mas desta vez
numa cosmopolita avenida e mais uma vez fascinada com o ocre comum a tantas e
tantas construções, descobri a segunda janela que mostro hoje. Esta, pela sua
conservação destaca-se no meio da degradação que se vai tomado conta do edifício.
Isolando-se a janela destaca-se toda a beleza da
moldura, que não sei se é de granito (não me parece). Os remates curvos dos quatro
lados, são os pormenores que lhe conferem uma elegância contida e que, quem
sabe, poderá servir de inspiração a algum ourives que assim crie uma jóia única
:)
A última fotografia fechou o post com chave de ouro.
ResponderEliminarMuitos de nós temos o fascínio das janelas. A pintora Maluda desenvolveu essa curiosidade, esse voyeurismo na sua obra e deixou-nos uma série de janelas lisboetas fascinantes. O Alfred Hitchcock filmou a sua Janela indiscreta, cujo tema é o mesmo das janelas da Maluda, o desejo de saber o que está para lá daquelas portadas.
Bjos
Caro Luís
EliminarÉ isso mesmo! Uma janela fechada ou semicerrada, uma cortina esvoaçante ou até mesmo um simples som conseguem despoletar a curiosidade dos que passam e os mais imaginativos, criam até tramas dignas de um Hitchcock :)
Também gosto das janelas da Maluda especialmente daquelas enquadradas pelos azulejos do edifício.
Beijos e boa semana
As janelas são-me sempre mais fascinantes pelo que deixam adivinhar que por aquilo que mostram.
ResponderEliminarO segredo, o velar do olhar, o apontar para algo que gostaríamos de ver, sem que o consigamos (eu sou um voyeur confesso), o adivinhar de algo que se intui, o mistério das janelas semi abertas, os reflexos nos vidros, o adejar dum pano de cortina, são tudo só coisas sugeridas, mas que, na minha imaginação, atuam como catalizadores, fantásticas pedras de toque que despoletam curiosidades difíceis de conter.
Acabo por me conter, é verdade, mas a muito custo, pois entendo que, mais importante que tudo, está o direito à privacidade das pessoas ...
Lembro-me sempre das janelas do Norte da Europa, sempre escancaradas, sem cortinas nem persianas, onde a vida privada se torna pública (não foram nem uma nem duas vezes que acabei por desviar a vista de corpos menos vestidos que se abanavam para lá de grandes vidraças nuas, nas ruas de Londres ou Amesterdão), e cuja contemplação, a partir do exterior, constitui para mim um encanto.
Lembro-me sempre dos sonhos, e das vidas que que construía observando os interiores faustosos que se adivinham a partir da observação das casas burguesas e opulentas da Île de Saint Louis em Paris.
E eu fazia-o muitas vezes, ainda que habitasse uma triste e pobre mansarda no 9º andar de um prédio, onde polulava uma comunidade de sul-americanos, não obstante situar-se num dos bairros mais influentes daquela cidade, o décimo sexto.
As janelas são um entrada para o nosso mundo de sonhos.
Gostei muito das suas fotos, sobretudo as persianas que me encantam, pois fazem-me lembrar a civilização árabe e o denso mistério que constitui para mim recriar-lhes a vida.
Ainda bem que não lhas conheço, pois desapareceria o mistério e com ele o prazer da observação
Uma boa semana
Manel
As janelas têm o condão de exercer nas pessoas mais imaginativas e/ou sensíveis esse estímulo que tão bem descreve. Para alguns, uma janela não passará disso mesmo, quando muito, ficar-se-ão pela sua observação estética ou funcional. Mas uma janela é muito mais do que isso, alterando-se as nossas divagações, conforme o nosso ponto de observação. De dentro para fora ou vice-versa. Por mim, não me sinto nada "tocada" quando estou da parte de dentro:) (exceção feita quando estou nos consultórios médicos) aí sim, utilizo-a olhando a rua com uma atenção fora do comum, para fugir de uma certa ansiedade que se apodera de mim nestas situações :)
EliminarAs cortinas são o remate necessário para tornar as janelas num objeto de fascínio para quem passa, por isso mesmo, não gosto das janelas desnudadas do norte da europa, embora compreenda a razão deste hábito.
Uma boa semana
É para mim admirável como um “olho clínico” como o seu, a partir de fachadas relativamente vulgares naquela cidade, consegue destacar elementos que fazem fotografias únicas!
ResponderEliminarParabéns, Maria Paula!
Beijinhos
Olá Maria Andrade
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas palavras. Quando se isola um elemento do seu todo, realçam-se detalhes que, quando integrados num conjunto passam despercebidos e, confesso, que o que mais gosto de fotografar são pormenores. Talvez isto seja uma maneira de contornar a falta de técnica :)
Beijinhos para si e boa semana