quinta-feira, 14 de março de 2013

Prato com casario

Mostro hoje um prato que comprei num site de vendas on-line e logo pela fotografia que o publicitava, me pareceu ser diferente do que normalmente estamos habituados a ver  neste tipo de motivo. Pensei até,  que poderia ser uma imitação recente (já as tenho visto!), mas como estava baratinho resolvi arriscar.

Chegado o prato, confirmei todas as minhas suposições exceto o facto de   não se tratar de uma cópia recente. Agora, porque o acho diferente?  Primeiro, porque a pintura é feita sob vidrado e este tom de azul não me é familiar nas faianças que conheço.
Segundo, apresenta uma decoração da aba que também não me parece muito frequente, especialmente esta que destaco acima. Também não reconheço a conjugação destes dois pormenores decorativos . Fazem-me pensar que se poderá tratar de faiança de outras origens.
Outro pormenor decorativo da aba. A conjugação dos dois motivos não me parece usual
Um alerta! Tirei dúzias de fotografias e não consegui reproduzir satisfatoriamente  o azul que me faz ensimesmar! Lembram-se da cor da tinta de encher as canetas, as de tinta permanente? E lembram-se quando acabava a tinta juntar-se alguma água para remediar a situação? :) Pois bem, o meu prato é nesse  azul,  que eu não tive a habilidade de captar, e como calculo que já mal se devem lembrar de semelhante coisa, deixo-vos com um filme muito curioso.

Um pormenor do centro do prato


 




8 comentários:

  1. O motivo central do seu prato é muito comum na faiança portuguesa. Até já escrevi sobre o assunto. Nos mercados de velharias atribuem esse motivo com o Chalet a Vilar de Mouros, baseados em sabe-se lá em quê. Há quem o atribua a Coimbra, mas creio que também com pouco fundamento.

    Agora a cercadura é realmente invulgar, o que talvez prove que mais que uma fábrica tenha feito esse motivo.

    O que sei de certeza é que quem pintou estes pratos se baseou na louça inglesa, no motivo Roselle, fabricado pela John Meir & Son, conforme mostrei em http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2011/02/o-grand-tour-ou-caneca-inglesa-da-john.html

    Bjos e parabéns pela bonita compra

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    1. Obrigada pela dica Luís!Ando desatenta :)Fui reler o seu post sobre a caneca com o motivo Roselle e não restam dúvidas, lá está o chalet que inspirou os nossos artesãos.Tenho mais um prato com este motivo pintado em rosa, mas quanto a esse, nunca tive dúvidas!É português com certeza:)
      Beijos e continuação de boa semana

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  2. Olhe, Maria Paula, acho o seu prato uma lindeza!!! E o vídeo que lhe juntou uma maravilha que me diz muito.
    É que sempre me deslumbrei com a arte de caligrafia, as curvas e floreados dos vários tipos de letra que aqui estão primorosamente apresentados. O meu pai domina(va) esta arte e em miúda muitas vezes lhe pedia que me escrevesse títulos nos cadernos ou nos livros encapados.
    Voltando ao seu prato, acho que é o mais bonito que já vi com este motivo. Concordo com o Luís que a base é o "Roselle" e ao ler o que ele escreveu, pus-me a comparar o chalet do seu prato com o do Roselle que tenho aqui ao lado num açucareiro e está lá tudo! Depois também fui ver o mesmo motivo numa terrina azul e branca que já mostrei num post antigo e lá temos os mesmos elementos. O que é totalmente diferente do que tenho visto em faiança portuguesa é a cercadura do seu prato, mas é nítida a influência da porcelana chinesa. Quanto ao azul de tinta, deve ser semelhante ao da minha terrina (penso que foi o meu 1º post de faiança portuguesa azul e branca, mas não me lembrei de ir lá copiar o link para aqui deixar).
    Parabéns e bom domingo.

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    1. Maria Andrade :) também eu recordo o quão especial era para mim e meu irmão o momento em que o meu pai,em ocasiões especialíssimas (exames !!) nos emprestava a sua "Parker 21". Todo o ritual de verificar se a carga estava bem cheia, o aparo em condições, as recomendações de utilização,são impossíveis de esquecer:)Quantas vezes, tanto zelo surtiu o efeito contrário ao pretendido lol!!

      Sendo a Maria Andrade, dona de uma coleção fabulosa considerar este prato, com este motivo, um dos mais bonitos que já viu, deixa-me um bocadinho vaidosa. Vaidosa e mais autoconfiante, pois é sinal que vou apurando o meu gosto e conhecimentos :)
      Muito obrigada por toda a verificação que fez com as sua peças.Este prato intrigou-me desde o início e creio agora, que a cercadura e o tipo de pasta foram os motivos dessas dúvidas.
      Beijinhos, boa semana e que a primavera venha depressa:)



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  3. Maria Paula, o seu prato é uma beleza.
    O motivo é recorrente e decorrente do Roselle, creio eu, como já o Luís e a Maria Andrade aqui referiram.
    Já ouvi teorias que este padrão teria sido produzido em Vilar de Mouros e em Caldas, mas até ao momento não vi nada de conclusivo neste sentido.
    No Alentejo tenho este casario em várias peças, pratos, bules e terrina, nas mais diversas cores, mas de nenhum sei a proveniência.
    A cercadura parece-se com a que rodeia um dos pratos que tenho com este casario, só que em rosa avermelhado, o que faz dele um dos meus favoritos.
    Quanto ao vídeo, é delicioso.
    Trouxe-me à lembrança a disciplina ligada ao estudo do "lettering" e à história da escrita em geral, que em tempos (já lá vão muitos anos) se ensinava na António Arroio.
    Obrigado pelos momentos que aqui trouxe, e uma boa interrupção de Páscoa
    Manel

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    1. Caro Manel
      A inspiração no motivo Roselle é notória e obvia, mas eu não a vi! O recorte e decoração da aba desviaram a minha atenção e baralharam-me por completo.) O tom aguado do azul, também não ajudou:) Agora, a sua origem, essa...já sabemos do que falamos, ou seja, as incertezas habituais perante peças não marcadas. Esse prato de que fala, em rosa avermelhado é com certeza muito fora do habitual. A conjugação da cor com este tipo de decoração, num prato com casario, deve resultar numa combinação muito bonita.

      Manel, será rara a pessoa da nossa geração que não tem recordações destas canetas de tinta permanente. Eu passei do lápis da lousa para estas canetas :)Claro que eram das baratas, que a criançada com as suas experiências e a pouca destreza manual própria da idade depressa se encarregava de estragar:) Lembro-me bem do estado de limpeza do meu estojo:) Calamitoso!! Incontáveis o número de aparos à mistura com "safas",lápis de tamanho diminuto e, o mais limpinho de toda esta tralha, pasme-se,era um bocadinho de esponja para limpar a lousa,que eu ignorava por completo, pois optava por limpá-la de forma muito mais prosaica :)Não podia ficar atrás dos outros lol!!
      Um abraço para si

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  4. Olá Maria Paula. Boa aquisição na net.
    O seu prato é interessante num motivo que gostamos - alguns atribuem a Roselle que eram pinturas muito exuberantes ao centro e na barra -, mas pode ser, sabe-se que copiavam loiça estrangeira, mas também há quem escrevesse que eram cópias dos chalets com a capela dos novos ricos vindos do Brasil, outros chamam-lhe simplesmente casario. Seja o que for eu gosto muito, mas em textura mais grosseira.
    Pelas fotos evidencia uma pasta mais homogénea e fina em pó de pedra ou mesmo próximo da porcelana, - se tivesse mostrado o tardoz via-se ainda melhor...pela aguada em rodapé e a tonalidade azul forte dos arabescos da barra o seu fabrico pode ser da zona de Aveiro onde era hábito esta pintura tal como a decoração da barra a fazer lembrar a faixa de ROUEN pintada na fábrica S. Roque - tenho 2 exemplares e a Maria Andrade também.
    Gostei particularmente do vídeo e das lembranças do passado. No natal uma das prendas que dei à minha irmã - 4 que fui comprando nas feiras.
    Boas férias e boa Páscoa com tudo o que merece.
    Beijinhos

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    1. Estas faianças não marcadas são um permanente desafio a que um bom amante de velharias não resiste, nem desiste de identificar, sabendo de antemão que muito dificilmente irá ter certezas sobre a sua origem. Mas que fazer! Velharia nova em casa e lá estamos nós no vira e revira a peça, busca aqui, busca acolá e o melhor de tudo é o prazer que tudo isto dá :) Serve até como terapia :) perante o ambiente que se vive.
      Quanto ao vídeo, ninguém da nossa geração lhe fica indiferente. São muitas a memórias. Muitas e creio eu que divertidas:) Eu andava sempre de dedos borratados de azul:) talvez, porque sugar a tinta do tinteiro era uma manobra muito complexa para mim:)) Abençoadas BIC:)
      Beijinhos Maria Isabel e boa Páscoa também para si

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