Tenho um
gosto especial por estes objetos utilitários recuperados de forma a serem
devolvidos à sua função inicial. Creio que tudo começou com a compra deste jarro e à subsequente pesquisa
que levei a cabo, com o intuito de recolher informação sobre a sua marca.Acabei
por ser conduzida à descoberta do blog Past imperfect - The art of inventive repair que nos mostra uma
fabulosa coleção de objetos recuperados com diferentes materiais que passam
pela prata, madeira e até cabedal.
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Pair of early blown glass wine goblets, c.1790 (Past imperfect) |
À exceção do restauro com
"gatos", não é muito frequente no nosso mercado de velharias
encontrar objetos recuperados com outras técnicas que não a acima referida, mas
eu tenho tido a sorte de encontrar alguns e é com muito gosto que hoje os
mostro.
Os dois
bules, da Vista Alegre e a caneca de Sacavém são da primeira metade do século
XX .A chávena é de origem holandesa, motivo Pompeia e tem carimbo usado entre
1851 e 1880.
Nunca me tinha deparado com uma situação
destas em que a falta da tampa, peça essencial num bule, não foi motivo
suficientemente forte para o pôr de lado.Esta tampa substituta, toda trabalhada
em metal, revela um trabalho cuidadoso e integra-se harmoniosamente em toda a
estética da peça. Igualmente equilibrado ficou o segundo bule, depois da
aplicação da pega e aro estriado, num liga metálica que me parece
estanho.
A robusta caneca de Sacavém ficou igualmente equilibrada e funcional com aros a servir de contrafortes e pega num metal que se deixou oxidar pelo tempo. É fácil imaginá-la a ser agarrada por mãos rudes numa qualquer taberna portuguesa e, quem sabe, a ser bebida por mais do que um cliente em simultâneo. Bem, isto é pura divagação, pois aqui pelo Minho o vinho era bebido em malgas ou tigelas, hábito que ainda se vai mantendo em certos locais mais rústicos.
O restauro
da chávena é mais complexo e delicado. Finos arames uniram de novo a pega ao
corpo da chávena. Pela parte de dentro pode-se ver que foram utilizadas duas
técnicas diferentes.
A parte superior foi agrafada e lá está o nosso conhecido "gato" enquanto que na parte inferior apenas aparece o arame, convenientemente burilado, criando assim uma espécie de "cabeça" arredondada.
E é esta a minha coleção de objectos restaurados e que vêm de um tempo onde, independentemente da condição social de alguém ou
do estatuto da peça, nada se deitava fora, tudo se aproveitava,
reutilizava e reparava. Hoje vivemos num mundo muito diferente, em
que rapidamente nos desfazemos das coisas. Tão rapidamente que basta uma avaria
para termos que comprar novo. Já muito pouco se conserta. Resta-nos então ir admirando estes exemplos de recuperação e preservação