segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dança

Embora Álvaro de Campos, pela pena de Fernando Pessoa afirme que só quem  nunca escreveu cartas de amor é que  é ridículo, nem pretendendo ser este post  uma  carta de amor, acho que  escrever sobre o que se gosta, por vezes, pode tornar- nos ridículos. Por isso mesmo, em vez de escrever sobre o gosto que tenho pela dança enquanto espectáculo, e o quanto gosto de dançar, prefiro, para o fazer, apoiar-me numa alegoria musical, com  duas músicas fantásticas, de dois autores e intérpretes que oiço desde há muito, muito tempo, e que foram estando presentes neste passar de vida.


Jacques Brel ! Não sei como o descobri, mas terá sido certamente com o célebre Ne me quitte pas. Quem da minha geração, não formou o seu gosto musical com a música francesa? A cultura francesa predominava. O francês era a primeira língua estrangeira que se aprendia, a moda e o cinema impunham-se ao público, as adolescentes imitavam a franja da Françoise Hardy e cantarolavam em surdina o Je t'aime... mois, n'on  plus. Eles, creio que se esforçavam, por parecer o Alain Delon, ou Johnny Hollyday e sonhavam pilotar um Ferrari ou Porsche nas 24 horas de Les Mans :)

Em baixo, "Valsinha" de Chico Buarque, cantor que conheço desde que ouvi a Banda passar, há já umas longínquas décadas :)




6 comentários:

  1. Eu ainda sou um apaixonado da música francesa, não porque estivesse na moda na minha juventude. Descobri-a em adulto, talvez para contrariar a anglomania e o americanismo que invade tudo. Brel, Piaf, Greco, Adamo, Dalila e sobretudo a Barbara tem-me acompanhado os desde os 40 anos.

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  2. Caro Luís
    Não é muito vulgar encontrarem-se pessoas da sua geração que conheçam e apreciem a música francesa especialmente alguns dos nomes que refere.
    Concordo em absoluto consigo, quando fala em anglomania. Então, no que diz respeito ao cinema, é um desalento total quando se pretende ver um filme pois predominam as "americanadas" com tiroteios e perseguições.Isto não quer dizer que não goste de um bom filme de entretenimento! Aliás, gosto tanto de cinema, que por vezes, reconheço, sou pouco selectiva, mas que fazer ? :)

    Um abraço
    Maria Paula

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  3. Olá Maria Paula
    Surpresa agradável esta de inovar os temas.
    Amei saber que aprecia a dança. Eu também. Ando com a ideia de me inscrever numa escolinha para aprender outros ritmos.

    Partilho as emoções que descreve da música francesa e brasileira,ícones da voz, imortais.

    Das Américas...não sei do que gosto, talvez por no tempo que trabalhei as ideias eram todas importadas de lá e como sempre acabaram em maus resultados

    Beijos
    Isabel

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  4. Bem, Maria Paula, eu sou do tempo em que a música francesa tinha ainda algum ascendente sobre nós.
    Vou viajar no tempo!
    Na verdade, tomei conhecimento com alguma da música francesa através duma professora de Francês que tive, francesa do Midi, julgo, mas que tinha verdadeiro prazer em trazer para a aula canções francesas ("parra que vocês se habituam à prronuncia frrancesa") . Foi aí que conheci a Piaf (a minha mãe era fã incondicional da Piaf), Brel, Aznavour, Brassens, (creio que o Gainsbourg ela não se atrevia, visto o colégio ser religioso, mas, hoje, a esta distância, creio que ela devia gostar dele também), e Mireille Mathieu, a quem eu achava piada porque tinha uma franja exactamente igual à da minha irmã (também partilhavam algumas parecenças, ainda que meio liquefeitas).
    Nas aulas da senhora conheci melhor Paris do que se lá vivesse!
    Vários itinerários nos eram colocados, fotografias dos principais monumentos, informação sobre as diversas linhas de metro, os principais parques da cidade, sobre as melhores lojas onde comprar, os "boulevards", enfim ... Paris abria-se à minha frente nessa altura sem nunca lá ter estado!
    Falávamos sobre Marcel Marceau, por quem ela era apaixonada (mais de uma vez fizémos de mimos para que outros colegas pudessem adivinhar, em francês, o que estávamos a tentar querer gesticular - eu era sempre uma nódoa, adivinhava tudo trocado, fazia gestos sem qualquer nexo, mas a professora era paciente!), e sobre alguns, poucos, escritores franceses que ela achava seguros, como Dumas, Verne ou Saint-Exupéry, e, a medo, lembro-me que tocou uma ou duas vezes nos poetas madiltos, mas não se atreveu a mais (isto sei-o hoje, na altura não sabia nada de nada! e de Baudelaire ou Verlaine não conhecia absolutamente nada, muito menos de Céline ou Aragon).
    Sinto alguma pena não ter conhecido melhor essa minha professora, que, na altura, solitária, desajustada, já era uma senhora com alguma idade, e pouco adequada às limitações que a profissão que tinha escolhido lhe punha.
    Deveria ter leccionado gente de outra camada etária, mais capaz de apreciar as pérolas que ela nos atirava ... mas como diz o ditado, na altura elas eram destinadas mesmo ao chiqueiro.
    Não me admiraria nada ver aquela senhora a dançar uma valsa mais lenta (um ritmo algo cadenciado e lento, como a valsinha do Chico Buarque, pois era uma senhora corpulenta, mas que se vestia de forma primorosa e adequada), pois estava sempre a tamborilar um qualquer ritmo com a mão, com o pé, com a cabeça ... imagino que toda ela deveria ter uma vida interior desconhecida!
    Vê o que o seu post originou? Fez-me viajar no tempo, o que é sempre bom aqui neste seu espaço
    Um bem haja e uma boa semana
    Manel

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  5. Cara Maria Isabel

    Eu já sabia deste gosto em comum,pois no seu outro blog, já conversámos sobre os bailes da nossa adolescência, onde era frequente acabarem as pilhas dos gira-discos eh eh :)

    A cultura americana, tem grandes nomes e grandes obras, nas mais diferentes áreas e que eu aprecio, mas lamento,que a cultura europeia nomeadamente a francesa e italiana,tenham vindo desde há bastante tempo a perder a sua influência.É no cinema e na música, onde eu, muito pessoalmente sinto esta predominância.
    Mas voltemos à dança.
    Não precisa inscrever-se numa escola de dança, para praticar. Desde há uns anos, nos ginásios, há o Body Jam, que são exercícios executados ao som de música,muito ritmada,no género da salsa,bolero, hiphop,e outras. Pratiquei esta modalidade durante uns anos (poucos!), até ao dia, em que numa bela aula aula, fiz um rodopio ao contrário, "abalroei" um jovem colega, :)que apesar do meu pedido de desculpa,me olhou ferozmente com um ar indignadíssimo e aí comecei a perceber que eu estava desajustada nessa modalidade e desisti.Mas experimente e vai ver como faz um bom exercício físico dançando.
    Um abraço
    Maria Paula

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  6. Caro Manel

    E eu acompanhei-o na viagem que fez ao evocar todos esses nomes que refere:)

    Recordo que lá em casa, quando no roufenho rádio, se ouvia a voz da Edith Piaf, o meu pai,dominado por um certo nervosismo, não nos deixava bulir :) o silêncio tinha que ser total! Se não se ouvisse daquela vez, saberia lá ele, quando teria a sorte de a ouvir de novo? :) Eu e o meu irmão,na altura, uns catraios, não compreendíamos e já sabíamos que a audição acabava sempre com expressões enfatizadas de satisfação e...sempre, sempre a seguir, referia Maurice Chevalier :), e como lamentava, raramente o ouvir.

    Gostei de ler a descrição das suas aulas de francês, e em tudo, os métodos utilizados eram muito semelhantes aos usados pela minha professora de Inglês! A capacidade que aquela senhora tinha, já na altura, de inovar!Ela própria construía os materiais de forma aprender a atenção dos alunos. E conseguia-o!, Hoje, o "revelar capacidade de inovar", em alguns agrupamentos de escola, poderá dar direito ao excelente lol!
    Os professores de crianças, embora raramente o demonstrem, têm um grande sentido de protecção das seus alunos, daí, muitas vezes evitarem certos temas, compreendo, por isso a que a sua professora não referisse Gainsbourg, muito mais, sendo o colégio religioso...
    Tive um professor de Português, que na primeira aula, quando nos punha a par da matéria, disse-nos, que não daríamos o Canto IX, dos Lusíadas, pois não era para a nossa idade. Quando cheguei a casa, a primeira coisa que fiz, foi ir procurar o citado Canto IX :)
    Um abraço e obrigada pela sua bela viagem no tempo.
    Maria Paula

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