quarta-feira, 11 de maio de 2011

África, representada num busto

Este busto foi-me oferecido pelo meu pai e é o que resta de uma colecção que representava os quatro continentes.

Pertenceu ao meu bisavô paterno,  e,  ao longo das várias gerações, a colecção foi-se dispersando, não fazendo o meu pai, a mais pequena ideia, sobre qual o caminho que terão tomado as restantes estatuetas.

Aqui está o meu bisavô. Recortei esta imagem, de uma fotografia, onde ele aparece rodeado da mulher, filhos, genro e sete netos e... o cão, o Mico :)  Optei por não colocar a foto na integra, pois acho que estaria descontextualizada, mas é tão interessante enquanto registo de uma época, que pondero mostrá-la, mais dia menos dia.


 O mais curioso de tudo isto é a tremenda coincidência de, aos dias de hoje, e às minhas mãos, ter chegado a estatueta que representa África, precisamente o continente onde  nasci, e cresci. Saí de lá a escassos meses de fazer os 21 anos.

Voltemos ao busto.
Acho-o uma peça muito bonita e sem dúvida,  que o conjunto dos quatro bustos terão formado uma  bela colecção.
 Que região de África, terá inspirado o autor, para a representação desta peça?
Os adornos, a roupa, os traços fisionómicos, a maneira como está arranjado o cabelo, dirão muito sobre isto e certamente, um estudioso da matéria, discorreria sobre o assunto, de tal forma, que eu o escutaria, qual criança ouvindo uma história.
A mim, a  peruca  parece-me  sugerir ser feita  de penas, e fez-me de imediato associá-la ao Egipto, mas a ausência da característica carregada maquilhagem em redor dos olhos, faz-me duvidar que assim seja.

Sobre a origem da peça nada sei. Não está marcada. No interior do pedestal, aparecem somente dois números, o 728, e , num tamanho mais pequeno o 10.


8 comentários:

  1. Olá Maria Paula
    Tem a subtileza de nos presentear com fotos muito ricas.No caso uma peça sua.
    Adorei a estatueta. Magnifica, muito bela, impecável. Uma herança de família e ainda com o condão de ser alegoria ao continente onde nasceu e cresceu. Fantástico.
    Nunca vi nada semelhante. Ultimamente tem aparecido no mercado réplicas, aqui há anos comprei três mulheres africanas que ofereci à minha irmã.

    O tocado ornado de penas à frente tem uma serpente muito presente na estatuária egípcia assim como o remate do cinto com círculos a imitar moedas. Ricamente decorada com pregadeira no manto. Cabelos decorados com missangas. Uma peça inestimável de fabrico português, acredito, talvez norte, Soares dos Reis,produziu muita estatuária.

    Parabéns, é dona de uma peça que além de bonita é emotivamente muito querida.

    Adorei a surpresa de só agora a mostrar.Gostei da foto de família, sobretudo das correntes de oiro dos relógios.
    Gosto do suspense!

    Beijos
    Isabel

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  2. Olá Maria Isabel
    Este busto para mim tem duplo valor, pela carga afectiva e pela sua beleza. Para já não falar, no pozinho de mistério, que qualquer peça por identificar tem :)

    Sempre a associei à Vista Alegre, não me pergunte porquê :) Provavelmente, porque conhecia pouco mais...

    Ultimamente, e por haver algumas semelhanças entre os tipos de números usados nas várias fábricas das Caldas da Rainha, não me surpreenderia se a sua origem ai estivesse.
    Um beijo e obrigada pela presença.
    Maria Paula

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  3. Esta sua peça evocou em mim uma quantidade de imagens.
    Primeiro parece-me uma peça criada por volta dos anos 20/30, quando surgiu uma febre de egiptomania, por altura da descoberta do túmulo de Tutankhamon em 1922.
    Os toucados com influência egípcia estavam, por isso, muito em voga nesta altura, sendo de salientar, porque me faz lembrar muito este que aqui apresenta, o usado por Theda Bara num filme sobre a vida de Cleopatra, produzido em 1917. Em 1934 foi a vez de Claudette Colbert incarnar a vida da malograda rainha, e, novamente, lá surge o toucado exótico.
    Este toucado que a sua peça apresenta, julgo ter a forma de pavão, ao qual falta o bico, talvez por se ter partido.
    Cleópatra é apresentada muitas vezes com um toucado em forma de pavão.
    E o facies de Cleópatra, apesar de rainha egípcia, nada tinha de negróide (como aliás este que apresenta, que da raça negra só parece ter a cor, pois as feições são mais caucasianas - tirando talvez uns lábios mais carnudos que o habitual), pois ela era de ascendência grega, da Macedónia.
    E as imagens que sobreviveram dela mostram-na exactamente com um tipo de estrutura facial europeia, como este seu busto.
    A cor negróide, neste caso, destoa completamente das características faciais do busto, às quais se junta aliás o cabelo, o qual se apresenta caído, penteado com cachos e tranças(?) nas quais se entrelaçam colares - nada me faz lembrar o tipo de cabelo característico da raça negra.
    Tire-lhe o toucado, as argolas, a cor e coloque-lhe uma boca um pouco menos menos sensual e terá uma pessoa de raça europeia.
    Isto para lhe dizer que a peça deve ter sido produzida algures na Europa (Portugal?) de acordo com a moda dos anos 20/30, segundo um modelo de mulher de raça caucasiana, à qual lhe foram depois adicionados atributos considerados mais ligados a África.
    Por incrível que pareça, e seguramente é coincidência, esta senhora tem grandes parecenças com a minha avó paterna (excepto a cor da pele, claro, pois a da minha familiar, apesar de morena, era mais clara, não obstante possuir genes de raça negra no seu sangue).
    Gosto muito da fotografia do seu bisavô, mostra um homem orgulhoso do que conseguiu, dono não só do seu, como o de muitos outros destinos, e perfeitamente enquadrado no seu espaço e no seu tempo.
    Manel

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  4. Bem, O Manel roubou-me quase as deixas todas!! Mas objectivamente as suas palavras são muito certeiras. Essa estatueta deve realmente pertencer a esse período em que estavam na moda as coisas egípcias. Recordo-me que visitei um café, em Praga, absolutamente inesquecivel, com uma decoração neo-egipcia. Julgo que se chamava Café Imperium ou assim qualquer coisa e ficava na rua Na Porici. O Café datava dos anos 20 e era tal e qual a sua estatueta, isto é uma visão das terras africanas e egípcias por europeus, que só delas tinham conhecimento através de revistas e de filmes de hollywood.

    Experimente consultar os catálogos da Vista Alegre no Cabral Moncada

    Abraços

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  5. Não sei o que aconteceu!
    Não consegui aceder ao blog,durante todo o dia de hoje,(aparecia-me um aviso informando que o bloger estava em manutenção)e os comentários da Maria Isabel, Manel e Luís desapareceram.
    Estou consternada e peço desculpas aos três, pelo facto.
    Voltarei,na segunda-feira, para responder com toda a consideração que me merecem.
    Um abraço e bom fim de semana

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  6. Olá Maria Paula,
    O que lhe aconteceu a si aconteceu-nos a todos desde quarta-feira,foi um problema do blogger que penso ainda não estar totalmente resolvido. Talvez ainda recupere os comentários que perdeu, assim como se poderão recuperar posts publicados nestes dias.

    Já reparei que entretanto se tornou minha seguidora, o que naturalmente agradeço.

    Quanto a esta bela peça que nos mostra, acho que tem muito a ver com a moda trazida pelo movimento Arte Deco, nos anos 20, 30, 40, do séc.XX.
    Por coincidência tinha visto o último catálogo online da leiloeira Corte Real e aparecem lá dois bustos de africanos,um masculino e outro feminino, e este tem muitas semelhanças com o seu nas feições. Só que são em terracota e o seu parece-me ser faiança ou porcelana mas a M. Paula não chegou a dizer de que material é o seu.
    Deixo aqui o site para ir ver:
    http://www.leiloeiracortereal.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=75&Itemid=43

    Também gostei muito de ver a fotografia do seu bisavô, são documentos muito importantes duma época. Eu também guardo religiosamente fotografias antigas de familiares e gosto de as ver de vez em quando...
    Beijos

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  7. Caros amigos
    Tento agora responder aos vossos gratos comentários.

    Maria Isabel
    Sei que já lhe respondi, mas não quero deixar de lembrar novamente o seu comentário, onde, para além de referir o Egipto, como a região que terá inspirado o autor da minha África, tece considerações muito elogiosas à figura do meu bisavô.

    Manel
    Está visto que quem concebeu este busto, sofreu forte influência da moda que vigorava na época. Teve contudo, a subtileza evitar pormenores, como por exemplo a típica maquilhagem das mulheres egípcias, pois aí, passaria a haver uma identificação imediata como o Egipto e não era essa a intenção do seu autor.
    Creio que colocou, como hipótese para data de fabrico o ano de 1912. É bem possível, pois o meu pai nasceu em 17 e diz que se recorda das estatuetas desde sempre.
    Interessante encontrar parecenças entre a sua avó e a estatueta. Sendo assim, foi uma mulher muito bonita.

    Luís
    Também reparei que foi afectado pelos problemas no blogger. O seu post sobre a pia de água benta, também andou desaparecido!
    Vou seguir a sua sugestão e consultar os catálogos da Vista Alegre, mas, os únicos pontos de referência que tenho (os números marcados na pasta, e que me parecem diferentes do habitual), são muito semelhantes aos utilizados em diferentes ateliês e fábricas das Caldas da Rainha, conforme o Dicionário Marcas de Faiança e Porcelana Portuguesas, nas páginas 160 e 161. Vou seguir as duas pistas :)

    Um abraço aos três
    Maria Paula

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  8. Cara Maria Andrade
    Eu acho sempre que estes sistemas informáticos nunca falham, e quando isso acontece,penso que a falha é da minha máquina :)

    Fui espreitar os bustos que indica,e há algumas semelhanças, embora, a estatueta que indica tenha uns traços mais identificativos da raça negra.

    A minha estatueta é de porcelana,mas baça e tem um toque ligeiramente aspro.Não sei se este tipo de pasta é aquela a que oiço designar por biscuit.
    Também tenho algumas fotografias dos meus antepassados, e tal como a Maria Andrade,guardo-as religiosamente, pois são raras. Antigamente, tirar fotografias, só em ocasiões muito especiais.
    Um abraço
    Maria Paula

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