Hoje, volto ao tema "Montras", que só muito recentemente descobri ser interessante para fotografar. A da foto que se segue, por exemplo, remeteu-me de imediato para a pintura de Henri Rousseau, pintor francês, que só muito tardiamente foi reconhecido como tal. Foi recusada, por exemplo, a sua participação, nas exposições organizadas pelo Salon de Paris, instituição oficial, e ao que parece, pouco aberta a novas ideias. Rousseau participou em várias exposições independentes, que foram surgindo em oposição à entidade oficial, como por exemplo o Salon des Refusés e o Salon des Indépendants, entre outras.
Mas voltando à minha foto. A associação ao quadro, "O sonho" foi inevitável. Os elementos comuns à pintura em questão e à montra justificam-na. Estão lá, a selva e o exotismo, representados na minha foto pelas folhas de palmeira, o capacete colonial, o colar havaiano, o leão, os frutos etc. E depois, reparem, para além da nudez do manequim, há a sua posição corporal, muito semelhante à do quadro. Os lustres da fotografia e o sofá da pintura, que a mim me parece de veludo vermelho, poderiam coabitar no mesmo salão. Estarei eu tremendamente sugestionada? Ou será que realmente o "O sonho" inspirou o criador desta montra?
"O sonho" daqui |
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ResponderEliminarHá gente com muita imaginação e com 3 ou ou 4 peças e uma boa ideia faz montras que são obras de arte, embora éfemeras.
ResponderEliminarhá muito anos, ainda antes do incêndio, houve uma semana cultural no Chiado, em que os alunos das Belas Artes fizeram as montras das lojas da Rua Garrett e do Carmo. Na Casa José Alexandre, um jovem artista teve a ideia de expôr todo um faqueiro pendurado por fios de pesca. Conseguiu dar a ideia que estavamos perante uma explosão e em resultado disso facas, garfos e colheres voavam em todas as direcções.
Bjos
Luís
Caro Luís
EliminarSão montras como a que descreve que conseguem prender a minha atenção, não só como compradora, mas também como "fotógrafa". Quando há alguns anos estive em Córdoba, por altura da Semana Santa, deliciei-me com algumas montras decoradas de acordo com a solenidade. O que mais me espantou foi a criatividade dos vitrinistas que nunca perderam a noção de sobriedade que o momento requeria.
Abraços para si
Olá Maria Paula.Muito interessante esta foto de montra e a sua analogia ao quadro do "Sonho". Revela mais uma vez a sua capacidade admirável de captar a visão das coisas, de momentos,fez um post brilhante.
ResponderEliminarParabéns, gostei imenso.
Boa semana
Beijos
Isabel
Olá Maria Isabel
ResponderEliminarObrigada pelas suas simpáticas palavras.
Quanto mais olho para o quadro e para a montra mais semelhantes me parecem, daí, já não saber até que ponto estou sugestionada pela minha própria ideia. Mas isto, também é o que menos interessa :)
Abraços
Confesso-lhe que acho a montra algo desastrosa, ainda que insólita.
ResponderEliminarBonita mesmo é a comparação que aqui teceu com a obra de Rousseau.
Henri Rousseau, denominado "Le douanier", pois, após várias ocupações, tornou-se empregado de alfândega durante a semana e no final desta, dedicava-se à pintura, a qual aprendeu sozinho, ainda que com influências de peso.
Transformou-se num pintor "naïf" e também "Primitivista", com algumas tendências já consideradas fauvistas na sua paleta.
Amigo e reconhecido por grandes nomes da pintura, como Picasso, Delaunay e Matisse (o meu favorito), nunca teve honras de reconhecimento oficial em vida, morrendo com sérias dificuldades monetárias, como aliás, muitos outros, desta geração.
Nunca foi aceite nos salões oficiais pelo que expunha no dos "Independentes", o que lhe permitiu, a pouco e pouco, sair do mundo obscuro e solitário do auto didatismo.
Escolheu muito bem a obra para fazer a comparação, pois estão lá todos os elementos, mas a sua composição, na montra, ainda que exótica, deixa algo a desejar.
Obrigado por me ter trazido aqui um dos meus pintores de eleição deste período
Manel
Caro Manel
EliminarFez-me sorrir com a sua franqueza :)
Olhando bem, talvez concorde consigo. Não consigo deixar de rir agora, quando vejo o leão a tentar abocanhar a folha da palmeira :), mas, que esta composição conseguiu atrair as atenções sem dúvida.
Fotografei esta montra porque ao olhá-la lembrei-me dos quadros do Henri Rousseau, sem no entanto, identificar de imediato qual deles. Um belo dia, ao selecionar livros para as minhas crianças, sobre pintores, vejo o "sonho" e percebi que era esse o quadro a que eu associava a montra do antiquário.
Desconhecia que Henri Rousseau tinha acabado com dificuldades monetárias, embora esta situação fosse ou seja, infelizmente, comum a muitas profissões ligadas à arte.
Fico satisfeita que tenha gostado da modesta analogia que estabeleci entre as duas imagens.
Um abraço e continuação de boa semana